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Regime burguês

A obsessão da esquerda pequeno-burguesa pela urna eletrônica

PSOL faz campanha histérica contra o voto impresso como se isso correspondesse a uma luta contra a extrema-direita

Nos últimos dias, o debate sobre o voto impresso ocupou o primeiro plano da política nacional. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), aprovou a formação de uma comissão especial para analisar a PEC que torna obrigatório o voto impresso para auditar o voto eletrônico, o que gerou muitos protestos da imprensa capitalista.

O Estado de S. Paulo, em um de seus editoriais, reagiu fortemente à medida, chamando o voto impresso de “atentado contra a democracia”. Incrivelmente, não foi apenas a imprensa burguesa quem reagiu. A esquerda pequeno-burguesa, defensora para todas as horas da moral e do regime burguês, também saiu correndo para defender o atual modelo de votação.

O PSOL, como partido tipicamente pequeno-burguês, é um desses grandes defensores. Em janeiro, o partido chegou a entrar com um processo contra o presidente ilegítimo Jair Bolsonaro porque ele teria dito que as eleições de 2018 foram fraudadas. No mesmo período, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) atacou diretamente o voto impresso:

De onde viria, portanto, tamanha hostilidade ao voto impresso? Naturalmente, ao fato de que, como o próprio Marcelo Freixo deixou claro, Bolsonaro defende essa forma de votação. O problema é que, se a esquerda decidir ter como política fazer exatamente o oposto daquilo que Bolsonaro diz defender, ela vai acabar por decretar a falência de seu próprio programa. Deixa de ser uma força política que defende um determinado programa para ter o seu programa por um “antibolsonarismo” acrítico e difuso.

Política não é a arte de combater um alienígena chamado Bolsonaro, que seria a expressão mais acabada de todo o mal. Política é a luta de classes. E, se a esquerda ignorar esse problema, ela vai, inevitavelmente, ficar a reboque de seus inimigos políticos.

A questão do voto impresso está diretamente relacionada com o chamado “regime democrático”. A urna eletrônica, sem qualquer comprovação impressa, é um método estabelecido pela burguesia brasileira. E é sob esse método que ela tem organizado as eleições no último período.

Não é segredo algum que a burguesia não tem qualquer apreço real pela “democracia”, mas sim que manipula as eleições de todas as maneiras para conseguir o resultado que deseja. É fácil de comprovar: a cassação da candidatura de Lula, as multas abusivas contra a campanha de rua, as doações milionárias para os candidatos de direita, a censura nas redes sociais e na imprensa em geral etc. A manipulação nas urnas, por sua vez, é mais complicada de demonstrar. No entanto, se a burguesia age sem pudores para que seus candidatos vençam, por que não poderia violar as urnas eletrônicas? De um ponto de vista técnico, é possível. E do ponto de vista político também.

É por isso, inclusive, que o Estado de S. Paulo agoniza tanto quando vê a possibilidade de o voto impresso ser estabelecido. As urnas eletrônicas, disfarçadas sob o argumento da suposta “neutralidade” da tecnologia, são um instrumento facilmente manipulável. Tanto é assim que apenas 15 países utilizam esse métodos nas suas eleições. Países mais desenvolvidos que o Brasil, que tanto passaram por revoluções democráticas e quanto têm uma classe operária mais organizada, utilizam o voto impresso.

Não haveria motivo algum para se opor ao voto impresso. A proposta seria que simplesmente quando o cidadão votasse, a urna imprimiria um voto que seria inserido nela. E, com isso, o voto impresso abriria a possibilidade de auditar a eleição de maneira mais concreta. Bastaria, para aquele que se sentisse injustiçado, solicitar aos órgãos eleitorais a contagem do voto impresso.

Não tem nada de “curral eleitoral” a ver com isso. A menos que cada um levasse o voto para casa, o que não é a proposta, nem mesmo de Bolsonaro. Na verdade, o esquema de urnas eletrônicas é mais propício ao monitoramento dos votos do que o voto impresso. Basta ter acesso à lista de eleitores, em cada horário, e os votos de uma dada seção eleitoral.

O problema é que a esquerda pequeno-burguesa se agarra tanto ao regime para lutar contra o bolsonarismo que acredita seriamente que as urnas eletrônicas seriam divinas, invioláveis. Invioláveis, de um ponto de vista tecnológico, não são. O que só nos leva à conclusão absurda de que, para os deputados do PSOL, os ministros golpistas do TSE, que fiscalizam as votações, são santos.

A campanha contra o voto impresso é, portanto, uma campanha para manter a fraude eleitoral. É uma campanha para que o povo confie cegamente em todos os conspiradores que favoreceram o golpe de 2016 e o golpe de 2018. A esquerda, deste modo, acaba por ignorar que Bolsonaro, embora seja um fascista, inimigo do povo, é também uma grande contradição no atual regime. Embora defenda, em linhas gerais, a política dos banqueiros, Bolsonaro é apoiado por uma base social viva, ao contrário dos demais políticos da burguesia. E com essa base, Bolsonaro, por um lado, é pressionado para adotar determinadas políticas de cunho eleitoral, que não são bem vistas pela política neoliberal, como, por outro, lhe dá maior independência política, que também não é bem visto pela burguesia. Diante dessas contradições, surge uma terceira: o caráter mais imprevisível de Bolsonaro e da extrema-direita em geral faz com que a burguesia sinta a necessidade, em algum momento, de sabotá-lo eleitoralmente. É por esses aspectos que Bolsonaro defende o voto impresso.

A oposição ao voto impresso é o mesmo que, diante da política bolsonarista de abrir a economia, defender o “fique em casa” por parte das lideranças de esquerda. A esquerda pode e deve discordar das posições da extrema-direita, mas deve levantar o seu próprio programa. Do contrário, é um caminho para o suicídio político. É servir de tapete para a política dos capitalistas.

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