A pandemia, além de escancarar o apartheid social entre os países desenvolvidos e subdesenvolvidos, evidenciou uma briga entre os países imperialistas pela vacina. Antes da pandemia, já com a ascensão da extrema-direita nos governos de países imperialistas como os Estados Unidos e a Inglaterra, evidenciava-se uma política econômica com um caráter de protecionismo econômico, onde no Reino Unido se materializou no BREXIT, quando em 31 de Janeiro de 2020, o Reino Unido, que já possuía uma participação diferenciada, deixou a União Europeia.
No começo do ano, iniciou-se uma crise na Europa em torno da vacina, devido aos grandes atrasos na entrega da vacina da farmacêutica AstraZeneca, uma empresa Inglesa-Sueca, que tem sua sede no campus da Universidade de Cambridge. A presidenta da Comissão da União Européia, Ursula von der Leyen, em um artigo, acusa a empresa AstraZeneca de atraso nas entregas, dizendo que a empresa entregou apenas 30% das vacinas contratadas e faz uma ameaça direta: “Temos a possibilidade de proibir as exportações. Esta é a mensagem para a AstraZeneca: cumpra seu contrato com a Europa antes de começar a entregar para outros países”. Uma mensagem digna dos países imperialistas: primeiro você vacina a Europa depois o terceiro mundo. A presidenta da comissão também comenta que a vacina está sendo produzida nos países da União Europeia (UE) e Inglaterra, contudo: “não recebemos nada dos britânicos, enquanto entregamos vacinas a eles”. Von der Leyen deu a entender que a Inglaterra estaria guardando a sua produção ao invés de exportar para a Europa, conforme acordo anterior. As insinuações deram espaço para uma crise da UE com o Reino Unido.
Boris Johnson, Primeiro Ministro do Reino Unido, um elemento da direita do Partido Conservador inglês, respondeu que os ingleses não bloquearam a exportação de nenhuma vacina, e falou que se opõe ao “nacionalismo das vacinas”. Não há dado que comprove nada sobre o assunto, contudo Boris Johnson é um político que teve como a principal bandeira o BREXIT, uma onda que além de tudo, tinha apoio da extrema-direita britânica.O que se sabe é que a vacinação do Reino Unido está em fase bem mais avançada que os outros países da Europa, ultrapassando neste momento 58% da população vacinada e com menos de 20 mortes diárias pelos dados oficiais do governo.
“Esta é a mensagem para a AstraZeneca: cumpra seu contrato com a Europa antes de começar a entregar para outros países”
Ursula von der Leyen
Uma coisa é certa: se na Europa países imperialistas brigam pelas vacinas, os países de terceiro mundo literalmente são reféns e terão a vacinação acelerada apenas quando os países imperialistas controlarem a pandemia.
A quebra das patentes
Um outro ponto que evidencia que no capitalismo o genocídio é a lei, diz respeito à Quebra da Patente das vacinas.
No dia 5 de maio, o presidente norte-americano, Joe Biden, devido à pressão interna, lançou uma proposta de quebra das patentes da vacina para que outros países pudessem fabricá-las. A “mão invisível do mercado” fez com que imediatamente após o pronunciamento, as ações das empresas caíssem vertiginosamente na bolsa de valores, fazendo com que as empresas rapidamente se organizassem com seus lobistas para combater a questão.
O grupo americano que reúne as principais indústrias farmacêuticas do País, Pharmaceutical Research and Manufacturers of America (PhRMA), que inclui a Pfizer e Johnson & Johnson, lançou uma campanha anti quebra das patentes, através de propagandas em plataformas como Google e Facebook, tendo Biden como alvo e colocando medo na população. O grupo também enviou uma série de e-mails para o governo americano, pressionando o governo a não insistir na quebra das patentes. E-mails desta troca foram vazados, alguns confidenciais, onde vê se a preocupação clara com China e Rússia:
“Esta proposta poderia resultar em uma transferência de tecnologia crítica dos Estados Unidos para grandes competidores como China e Rússia, sem aumentar o suprimento de vacina ou distribuição. Infelizmente o governo Biden apoia esta proposta”.
Em outro documento, o grupo faz várias colocações a respeito do domínio do mercado Chinês em várias áreas como semicondutores e na parte da vacina aponta:
“Os próprios documentos chineses afirmam que a vacina doméstica do país ‘não tem taxas de proteção muito altas’. Com as receitas e a propriedade intelectual das vacinas altamente eficazes das empresas americanas, a China poderia devorar os suprimentos e a tecnologia das vacinas”.
No início deste ano, os advogados e lobistas da PhRMA já haviam solicitado ao governo Biden que emitisse sanções comerciais contra países que violassem os direitos de patente sobre a tecnologia de vacinas. Em uma carta ao Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos, os advogados da PhRMA pediram à administração Biden para “buscar uma variedade de iniciativas de coação” e “usar todas as ferramentas disponíveis e influência para garantir os parceiros comerciais na América”.
Aqui fica muito claro a atuação prática do imperialismo na América Latina e em outros países. A pressão é enorme para que países como Brasil importem apenas vacinas americanas e criem restrições para outros países, como acontece no Brasil com a vacina Russa Sputnik V, que só foi autorizada pela ANVISA na semana que passou. Também a quebra da patente, que seria uma solução para países atrasados, foi rapidamente engavetada por pressão dos monopólios e atualmente ninguém mais discute a possibilidade.
A bolha do mercado especulativo
Como já foi relatado acima, os parasitas do mercado financeiro estão usando as vacinas para encherem os bolsos e não desejam perder nenhum centavo. Por qualquer nova notícia o valor das empresas nas bolsas vai nas alturas ou despenca. Um exemplo foi da empresa Moderna, quando em maio de 2020, sem nenhum estudo científico publicado, apenas em um comunicado para a imprensa, dizia que tinha conseguido bons resultados com os primeiros e ainda iniciais testes da vacina. Horas depois a empresa anunciou que levantaria 1,3 bilhão de dólares na bolsa, vendendo grandes lotes de ações. Um dos executivos chefes da empresa, dois dias depois vendeu as ações que possuía da empresa resultando em um ganho de 1,2 milhão de dólares. Em pouco tempo a Moderna cresceu algo em torno de 300%, alcançando um valor de 30 bilhões de dólares, sem ter de fato nenhum produto, apenas um comunicado quase que informal para a imprensa.
Outro dado mostrou que em alguns meses de pandemia, as empresas farmacêuticas já mais que quadruplicaram seus valores. Na bolsa americana, no primeira semestre de 2020, as oito maiores companhias, chamadas também de BioTechs, passaram de um valor de 130 bilhões de dólares para algo em torno de 600 bilhões de dólares.
A coisa desandou de uma tal maneira, que atualmente o preço das ações destas empresas na bolsa, varia conforme as novas cepas. Se surge uma nova variante e a vacina é efetiva, a ação sobe, caso a vacina não tenha eficácia, a ação na bolsa desce repentinamente. Um jogo em meio à crise sanitária.
Na bolsa americana, no primeira semestre de 2020, as oito maiores companhias, chamadas também de BioTechs, passaram de um valor de 130 bilhões de dólares para algo em torno de 600 bilhões de dólares.
No início de 2020, quando o mundo começou a falar da pandemia do COVID, os mais incautos e positivistas, diziam que no mundo sofreríamos uma nova fase com maior solidariedade entre as pessoas. O que se viu foi o contrário: a crise sanitária até o momento já matou – em dados oficiais suspeitos – mais de 3 milhões de pessoas no mundo, sendo sua imensa maioria trabalhadores. Os milionários ficaram mais milionários ainda e a população pobre que não morreu, afundou na miséria. Os países imperialistas trataram de vacinar sua população, já passando da taxa de 50%, vacinando jovens e crianças, enquanto em outros países como Brasil a vacinação encontra-se quase parada. E o Brasil é uma dos melhores casos entre os países pobres. Os grandes monopólios farmacêuticos que sempre lucraram com a doença das pessoas, atualmente ganharam mais força e pressionam para que possíveis soluções como a quebra das patentes, deixando a mercê povos do “terceiro mundo”. Os especuladores viram uma oportunidade para criarem suas bolhas especulativas e se deliciarem no seu sarcasmo financeiro. A pandemia não trouxe nenhuma reflexão boa, mas sim aprofundou a diferença entre as classes. A burguesia brasileira atua como na época da escravidão: deixa a população morrer de fome sem um auxílio digno e disponibiliza um transporte público lotado para o deslocamento do trabalhador. Como a procura por emprego é alta, se o trabalhador morrer, o burguês arranja outro fácil. É um genocídio aos nossos olhos e do nosso tempo. Tivemos também que ver um setor da esquerda, que se diz defender o trabalhador, praticar o “home office” e ainda criticar o trabalhador que teve que sair de casa.
A pandemia escancarou a podridão do sistema capitalista e pelo menos um grande aprendizado foi tirado: a diplomacia e a suposta solidariedade, não existem no capitalismo.