Segundo a coluna de Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo (a mesma que emprega Guilherme Boulos como colunista), a mega-empresária Luíza Trajano, dona do Magazine Luíza, foi convidada especial de Boulos no seu curso “Soluções para o Brasil”, a plataforma KOPE, pertencente ao Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa, ligado a think tanks norte-americanos e vinculado com figuras de proa da burguesia brasileira e internacional. Eis o PSOL cada vez mais íntimo da burguesia.
Os dirigentes do PSOL transformaram a acusação de conciliação e reformismo em um verdadeiro cavalo-de-batalha contra o PT. Quando o PSOL foi fundado, essa foi a maneira que os parlamentares do partido, saídos do PT, encontraram para agrupar uma pequena base de esquerdistas de classe média descontentes com o petismo.
Mas essa política não passava de uma demagogia de tipo esquerdista. Quem conhece os personagens e os documentos de fundação do PSOL sabe que o partido nunca passou de um pequeno PT, com a mesma política de conciliação de classes e reformista. A única diferença, e aí sempre residiu a vantagem do PT sobre o PSOL, é que enquanto o primeiro representava uma parcela importante das massas trabalhadoras, o segundo nunca passou de ser a representação minoritária de setores de classe média.
Com o desenvolver da situação política, o PSOL evolui cada vez mais à direita. Se o partido foi fundado sobre a base de um discurso esquerdista, agora até mesmo no discurso esse esquerdismo tem cada vez mais perdido lugar para uma política abertamente oportunista. A entrada de Guilherme Boulos no partido é um marco importante na direitização do PSOL.
Boulos nunca foi um militante do partido, tendo sido filiado ao PSOL no melhor estilo de um partido burguês, para ser candidato à presidência. Uma vez alçado a líder do partido, Boulos leva adiante uma política oportunista, resultado de sua estreita relação com a direita nacional.
Em grande medida, o discurso pseudorradical, contra o reformismo e a conciliação, se transformou em um mero verniz que serve no máximo para confundir os incautos que formam a base do PSOL e dos partidos que estão em sua órbita como o PCB, a UP e em várias ocasiões o próprio PSTU.
Na prática, em que pese o tamanho do PT, o PSOL vem evoluindo de maneira muito rápida a uma política de conciliação de classes, ou, pior ainda, de colaboração direta com a burguesia e o imperialismo. Basta ver a defesa aberta que Freixo (até ontem deputado pelo partido e não à toa tendo entrado no PSB, um partido burguês), Boulos e outros membros do PSOL fazem da frente ampla com a direita, chegando inclusive a participar de reuniões e eventos com membros da direita. As relações de Boulos com a direita golpista são muito claras, só não vê quem não quer. Mais recentemente, a deputada estadual Isa Penna (SP) mostrou que está disposta a tudo para se juntar com a direita ao participar orgulhosamente do ato do MBL e do Vem pra Rua.
No terreno ideológico, Boulos e seu grupo no PSOL, do qual participam Ivan Valente, Isa Penna e Luíza Erundina, defendem uma coisa chamada “revolução solidária”. Mais reformista e conciliador do que isso é até difícil de imaginar. No entanto, isso não impede que, sempre que precisam atacar Lula e o PT, esses psolistas tirem da manga a crítica à conciliação de classes. Uma crítica cada vez mais oportunista e cínica, vinda de um partido que é profundamente conciliador e reformista.
É tão cínica que muitos psolistas haviam acusado Lula e o PT de levarem uma política de colaboração por conta dos boatos de que a mega empresária Luíza Trajano poderia ser vice de Lula. Isso, ao mesmo tempo em que a empresária foi convidada especial para dar aula no curso de Guilherme Boulos, “Soluções para o Brasil”.
Que Lula tem uma política de colaboração, ninguém tem dúvida, mas quem é o PSOL para fazer essa acusação?
Alguém poderia questionar que ser vice é muito diferente do que ser convidada a dar uma aula. De fato, cada coisa de acordo com a força política de cada um. Se Boulos tivesse metade da popularidade de Lula, talvez eles pudessem brigar por tê-la como vice, mas por enquanto, o psolista tem que se contentar com a participação em seu curso.
No entanto, a aula de Luíza Trajano no curso de Boulos é muito mais significativa, porque concreta, do que um boato de que ela poderia ser vice de Lula. A segunda é uma aliança platônica, a primeira já é uma aliança de fato e mostra mais uma vez a estreita relação de Boulos com a burguesia. Até agora, na prática, a mega-empresária está mais para Boulos do que para Lula ─ como está toda a burguesia.