Valdir Pereira, que ficou conhecido nos gramados do Brasil e do Mundo com o nome de Didi, nasceu em 8 de outubro de 1928 na cidade de Campos de Goytacazes, estado do Rio de Janeiro.
No dia 12 de maio de 2001, na cidade do Rio de Janeiro, morreu decorrência do agravamento de um câncer, Didi, o mais talentoso meio campista do Brasil, que os gramados ruins e as bolas de capotão dos anos 40 a 60 virão desfilar seu futebol.
Aos 72 anos, há vinte anos, o “príncipe etíope” dos gramados brasileiros, ou como os europeus o chamavam, o mister futebol deixaria de existir em corpo, mas passaria a eternidade nas memórias dos amantes do futebol, nas memoráveis imagens de fotos, vídeos de suas jogadas elegantes, de seu talento em bater na bola e de sua inteligência de conduzir o time de dentro do campo, como se fosse o único técnico daquele time.
Trajetória de Ouro
Filho de operário, morador de bairro pobre, logo cedo teve contato com o futebol, nas “peladas” de rua, ou nos terrenos baldios. A bola era feita de meia, muito comum na época. Nada o tirava do jogo de futebol com os outros garotos da rua, só parava o futebol, quando a mamãe, o irmão mais velho ou sua tia vinha buscá-lo sob fortes ameaças.
Começou sua carreira profissional de futebol aos 16 anos no Americano da sua cidade em 1945, tendo jogado no Lençoense (SP), Madureira (RJ) até iniciar sua passagem pelo Fluminense entre 1949 a 1956, aonde também foi ídolo.
No entanto, Didi alcançou seu auge como cérebro da bola no famoso time do Botafogo carioca de 1957 a 1959, aonde jogou ao lado de outros craques como Nilton Santos, Garrincha, Quarentinha, Amarildo e Zagalo, que era comandado, nada menos, nada mais, pelo comunista João Saldanha, o João “sem medo”.
Depois do sucesso que alcançou no Botafogo, Didi ainda jogaria de 1959 a 1961 no Real Madri da Espanha, ao lado do húngaro Ferenc Puskas, aonde fez sucesso, e foi chamado apelidado pela imprensa esportiva da Europa de mister futebol ou senhor futebol, no entanto, Didi queria voltar ao Brasil, não adaptado ao frio de lá, em 1961 voltou para o Botafogo aonde jogou mais alguns anos. Didi encerrou sua carreira no São Paulo Futebol Clube no ano de 1966.
Foi líder na Seleção Brasileira
Na seleção brasileira, Didi disputou três Copas do Mundo (1954, 1958 e 1962) consagrando-se campeão em duas (1958 e 1962), sendo considerado o melhor jogador da Copa de 1958, um feito realizado por menos de 10 jogadores de toda a história do futebol Mundial.
Também é de se contar que Didi foi escolhido como melhor jogador da Copa de 1958, disputando esse mérito com Pelé e Garrincha, que naquela Copa, a dupla de atacantes só faltou fazer chover nos gramados da Suécia, o que mostra a dimensão do futebol de Didi.
A posição em campo que Didi jogava, o fez especializar no passe, em servir os seus companheiros de time, colocar o atacante a frente do gol, mas mesmo assim, Didi em 68 jogos que disputou com a camisa da seleção brasileira, marcou 20 vezes, pois era um especialista em cobrança de faltas e chutes de fora da área.
“Folha Seca”: a obra prima
Ao falar do jogador de futebol, Didi, a primeira coisa que se vem à cabeça de qualquer um é a célebre jogada inventada por esse gênio da bola, a “folha seca”.
Uma batida no meio da bola somente com os três dedos do pé virado, que ao projetar a bola ao gol, em determinado momento da trajetória da bola, o capotão, caia para dentro do gol, igual a uma folha seca caindo no ar. Uma obra prima do arte do futebol!
Especialista em bater na bola, tanto com o pé direito como com o pé esquerdo, Didi desenvolveu essa batida na bola por causa de uma contusão que sofreu no tornozelo, que o fez usar os dedos do pé para bater na bola, ao invés do peito do pé, e que o fez perceber efeito que aquele chute dava na trajetória da bola.
Depois disso, foi aprimorando, com exercícios nos dedos para que eles pudessem ter mais força para bater a bola, além de usar uma chuteira mais apertada no pé direito para que o chute tivesse mais precisão. Didi usava uma chuteira de número 41 no pé esquerdo e número 40 pé direito.
De jogador a treinador a comentarista
Quando encerrou a carreira em 66, Didi foi ser técnico, ensinar o que aprendeu nas quatro linhas, e como técnico de futebol, treinou o time do Sporting Cristal do Peru, o River Plate da Argentina e os dois times que o consagrou, o Fluminense e o glorioso Botafogo do Rio de Janeiro.
Além disso, foi treinador da seleção do Peru na Copa do Mundo do México em 1970, além de treinar as seleções da Turquia e da Arábia Saudita.
Como treinador, Didi tentou ensinar a jogada da folha seca aos seus jogadores comandados, os mais habilidosos, alguns chegaram perto, mas não com a precisão do chute que Didi fazia.
O dom de Didi ficará sempre eternizado na figura de um negro da classe operária brasileira, que ao entrar em campo desfilava no gramado e com a bola colada aos pés como se fosse um príncipe, sabedor da superioridade de seu futebol em relação aos demais, da superioridade do futebol brasileiro, do talento de jogadores mais jovens que ele ajudou a desenvolver seu potencial, a exemplo de Pelé e Garrincha.
Em qualquer seleção mundial de todos os tempos, Didi é presença obrigatória, e não só para jogar, cobrar faltas ao estilo “folha seca”, mas para também comandar o time de dentro do campo, orientando e organizando todos os dez jogadores que com ele deixará qualquer amante de futebol embebecido de tamanha habilidade futebolística.