Já fazem um mês e três dias que o catador de recicláveis Ailton Silva de 23 anos, morador do Capão Redondo em São Paulo, está preso sem qualquer prova, simplesmente por ter um “porte físico inconfundível”.
É o que alegam os policiais do 47º distrito policial que prenderam Ailton e um amigo quando trafegavam de moto no bairro por serem compatíveis com o perfil descrito por um motorista de aplicativo e sua passageira que haviam sido assaltados momentos antes por um grupo de cinco pessoas em três motos, todos com o rosto coberto pelos capacetes. No boletim de ocorrência as vítimas alegaram que apesar de usarem capacete não tinha qualquer dúvida que Ailton foi um dos que entrou no carro e levou o celular e 120 reais da passageira, pelas roupas e “pelo porte físico inconfundível”.
A irmã de Ailton, Angela da Silva, em entrevista ao Alma Preta, afirmou “A polícia diz que estava rastreando o celular, mas depois que abordaram o meu irmão não rastrearam mais. Simplesmente levaram ele para averiguação sem nem explicar a acusação. Além disso, a moto do assalto era escura e a moto deles é vermelha. O capacete do ladrão era preto e o meu irmão estava usando um capacete branco. Ele foi preso sem estar com o produto do assalto, sem ter nem ido no local do assalto”
E destacou “meu irmão tem o mesmo porte físico de centenas de rapazes do bairro” e que ele está preso por ser negro. Ailton trabalha com carretos de entulho em bairros da zona Sul de São Paulo, aonde mora com a mãe idosa, que precisa de cuidados diários por ter sofrido um derrame cerebral.
Ailton está preso desde o dia 25 de maio, transferido para o CPD de Osasco em prisão preventiva por decisão judicial à partir de flagrante. Porém, as contradições da prisão até hoje não foram esclarecidas nem pela delegacia responsável, nem pela assessoria da Polícia Civil, que inicialmente disse que os policiais rastrearam o celular roubado, o que levou até Ailton e seu amigo, mas nem o celular nem o dinheiro foi localizado com os dois, bem como as motos dos assaltantes terem cores escuras, diferente da moto e capacete de Ailton.
Em resumo, toda a situação demonstra uma velha prática da polícia brasileira pelas periferias e bairros pobres, a de achar um culpado rapidamente para “elucidar” os crimes, o que, não por acaso, leva à prisão homens jovens e negros. Como afirmaram a família e amigos de Ailton ele está preso por ser negro e pobre, é claro, esse é a “prova” suficiente para a polícia, para a justiça e para a burguesia brasileira prenderem, torturarem e matarem dezenas de milhares de negros todos os anos.
Todos os dias, as batidas e operações policiais tem destino certo, as periferias, comunidades aonde a condição econômica de milhões de trabalhadores explorados se amontoam em condições de habitação muito duras, aprofundadas pela completa ausência do Estado para suprir infraestrutura básicas, mas que se faz presente quando é para reprimir, levar violência através da Polícia Militar, principalmente.
Desta forma, com toda a crise econômica vem se aprofundando, milhares de pessoas sem qualquer rendimento e ainda, sofrendo com a pandemia do coronavírus e com a repressão policial que só faz crescer, não há outro caminho que não o de reivindicar o fim da Polícia Militar, essa verdadeira máquina de matar negros e pobres, substituí-la por uma organização formada pelos próprios moradores, que são os maiores interessados em manter a segurança de suas famílias.
Assim, segue neste mesmo caminho a criação de conselhos populares em cada bairro que possam reunir os moradores para conseguirem eles mesmo dar solução aos problemas da comunidade seja de segurança, alimentação, infraestrutura, moradia, saúde e emprego.