“A Ancine [Agência Nacional do Cinema] censurou o filme. É uma censura diferente, que usa instrumentos burocráticos para dificultar produções das quais o governo discorda. Não tenho a menor dúvida de que ‘Marighella’ não estreou ainda por uma questão política.”
Esse foi o desabafo do ator e diretor Wagner Moura, feito em janeiro de 2020, para matéria no UOL.
O filme, que deveria ter estreado em 20 de novembro de 2019, foi adiado após a produtora ter pedido de prazo de uma proposta. cujo objetivo era obter recursos para financiar a distribuição da obra, negado pela Agência Nacional de Cinema (Ancine). Para Wagner Moura, a negativa teve motivações políticas.
O ator e diretor baiano ainda considera que o governo “aparelhou” as instituições responsáveis pela gestão das políticas de cultura, com o objetivo de censurar os adversários.
Após mais de um ano, a obra finalmente pode entrar em cartaz e pôde ser assistida desde o último dia 19/11 até ontem (25/11) no Espaço Itaú de Cinema – Glauber Rocha, em Salvador, como parte das comemorações pela Semana da Consciência Negra.
O filme é uma cinebiografia de Carlos Marighella, baiano de Salvador/BA, ex-deputado, poeta e revolucionário marxista-leninista brasileiro que foi assassinado pela ditadura militar em novembro de 1969. A história é uma adaptação do livro de 2012 “Marighella – O Guerrilheiro Que Incendiou o Mundo”, de Mário Magalhães. Mesmo sem estreia nacional, a obra passou por cinco festivais internacionais, inclusive o famoso Festival de Berlim.
Marighella foi dos principais agentes da luta armada contra a ditadura militar brasileira, chegou a ser considerado o inimigo “número um” do regime e foi cofundador da Ação Libertadora Nacional.
Além de censura, o filme sofreu diversos ataques, entre eles o uso de robôs (um método comum da atual direita fascista) para reduzir a avaliação do filme no IMDB (famoso site de avaliação de filmes).
A censura a Marighella é mais um sintoma da doença fascista que tomou conta do Brasil, o atual regime e seus simpatizantes (a direita não possui militantes, apenas oportunistas) perseguem toda e qualquer forma de oposição política, seja ela cultural, acadêmica ou organização popular. É emblemático, no mês da Consciência Negra, a perseguição a um filme sobre um revolucionário afrodescendente, mostrando a face racista da direita.
É preciso lutar contra o governo Bolsonarista e todos os seus apoiadores fascistas, dizer não a censura contra a nossa história, não ao racismo! Fora Bolsonaro, fora todos os golpistas!