No cenário de crise generalizada que se intensificou no País a partir da pandemia mundial do coronavírus, as forças vivas da sociedade (partidos, instituições, movimentos, grupos sociais) passaram a se movimentar de forma mais aberta e intensa, todas realizando ações para a defesa dos seus interesses, vale dizer, a defesa dos seus interesses materiais e de classe.
A burguesia nacional e seus representantes, diante das medidas de isolamento e quarentena que foram adotadas pelos governos estaduais no sentido de confinar o conjunto da população em casa, como forma de minimizar o contágio e a infecção pelo vírus causador da covid-19, vem se rebelando de maneira cada dia mais contundente contra as medidas. Em várias cidades estão sendo convocadas e realizadas carreatas de protesto contra a adoção da quarentena.
A extrema direita nacional bolsonarista vem exigindo o fim da quarentena para os trabalhadores (não para ela, obviamente), falsamente alegando a “necessidade da retomada da atividades econômica e do crescimento”. A verdade, no entanto é outra completamente diferente. O grande empresariado nacional, os banqueiros e os capitalistas de uma forma geral querem o trabalhador dentro da fábrica para que os seus enormes lucros continuem a ser gerados pela exploração da força de trabalho, não se importando se para isso os empregados se exponham à contaminação, adoeçam e morram.
A verdade é que na prática, até mesmo para um observador menos atento, não existe quarentena, ou se existe, esta não acontece para o trabalhador, para o operário, para o enorme contingente de brasileiros que se encontram na informalidade, ou simplesmente desempregados; para aqueles que precisam lutar pelo pão e pela sobrevivência em seu trágico e duro cotidiano.
Para os que se encontram fora desta condição (classe média e outros grupo sociais privilegiados) a quarentena até pode ser uma realidade, embora limitada e parcial, mas não para o trabalhador e sua família. Dentro deste espectro dos grupos e das classes sociais que podem e estão confinados em suas casas, chama a atenção um segmento político-social, constituído pela esquerda brasileira. Desde quando se instalou a pandemia no País, a esquerda vem adotando uma conduta política de grotesca e patética colaboração com o governo golpista, com governadores bolsonaristas (Ibaneis, Dória, Witzel) e até mesmo se desmanchando em elogios a ministros que compõem o ministério do governo direitista, como foi o caso do deputado carioca do Psol, Marcelo Freixo, um adorador do agora exonerado ministro Mandetta, privatista, aniquilador do SUS, ex-deputado pelo DEM, o “homem de ciência” que expulsou do Brasil os médicos cubanos.
O fato é que enquanto a direita e a extrema direita avançam em seus intentos golpistas contra os trabalhadores e as massas populares (no parlamento, aprovando leis que atacam direitos e conquistas da população e também nas ruas, exigindo a volta ao trabalho), a esquerda nacional curte alegre e sorridente a quarentena, trancafiada em casa, assistindo, paralisada e inerte, a ofensiva cada vez mais contundente e agressiva da burguesia contra a população pobre do País.
Neste cenário trágico e catastrófico para a maioria da nação, o trabalhador e sua família, nem mesmo os sindicatos estão cumprindo a sua função básica, precípua, que é a defesa do trabalhador, a defesa dos seus direitos diante da ofensiva dos patrões e dos capitalistas exploradores, mercadores da morte. As entidades estão com as portas fechadas, justamente no momento em que elas mais deveriam estar abertas; no momento em que os sindicatos deveriam estar na linha de frente da luta para denunciar os ataques do governo burguês-golpista contra a população pobre e explorada, desassistida, que vem se infectando e morrendo em todas as regiões do País, sem hospitais, sem leitos para internação.
A crise sanitária na qual o País está imerso exige da esquerda uma outra conduta, uma outra política, uma outra estratégia. É necessário romper com a quarentena política e sindical da esquerda, reabrindo os sindicatos e organizando a população para enfrentar Bolsonaro e seu governo direitista, e também os governadores, responsáveis pelo sucateamento da saúde pública nacional; pela falta de profissionais (enfermeiros, médicos, pessoal de apoio); pela falta de equipamentos hospitalares (respiradores, reagentes para teste); pela desativação de unidades de saúde e pela diminuição dos leitos hospitalares, necessários ao atendimento da população pobre das grandes cidades.