Uma vitória parcial das jogadoras da seleção feminina de futebol aconteceu numa disputa judicial ainda em aberto. A demanda foi apresentada contra a Federação de Futebol dos Estados Unidos em março de 2019 e teve a adesão de todo o elenco.
As pautas apresentadas no processo foram a desigualdade salarial e de condições de trabalho, que estariam amparadas por uma discriminação de gênero. Para além da questão abstrata da discriminação de gênero, metade das demandas foi provisoriamente atendida. Enquanto as jogadoras seguem cobrando igualdade salarial em relação à seleção masculina, parte das demandas por melhores condições de trabalho foram conquistadas.
O acordo firmado nesta semana prevê que a federação deve implementar políticas de melhoramento das condições de acomodação em hoteis, pessoal, locais e viagens. Neste ponto, resta acompanhar como se dará na prática a implementação dessas políticas.
A reivindicação de igualdade salarial, muito mais concreta e imediata, já foi rejeitada uma vez pelo judiciário estadunidense. As atletas já se manifestaram e vão recorrer da decisão, cobrando inclusive uma indenização de 66 milhões de dólares. A reivindicação é relativamente simples: salários iguais para trabalhos iguais.
Por ser mais antigo profissionalmente, o futebol masculino já percorreu alguns dos caminhos de embates que o feminino está buscando desbravar atualmente. No caso dos EUA, chama muito a atenção o fato de que ao contrário da seleção masculina, a feminina já conquistou títulos importantes.
As atletas cumprem um calendário com maior número de jogos, mesmo com salários inferiores e condições de treinamento e tratamentos médicos piores. Chama muito a atenção também que além de ser mais vitoriosa que a seleção masculina, a seleção feminina ainda rende mais lucro à federação.
Enquanto a seleção masculina dos EUA nunca conseguiu se destacar internacionalmente, a feminina conseguiu conquistar até títulos mundiais. Isso se explica pela falta de estrutura histórica do futebol feminino, em especial nos países onde a prática é mais antiga. Nessa modalidade pouco tradicional, a superioridade econômica conseguiu se impor facilmente. Já no futebol masculino, os EUA se deparam com décadas de prática do esporte especialmente na Europa e na América do Sul.
No Brasil, onde o futebol feminino é sistematicamente boicotado pela CBF, jogadoras reconhecidas já chegaram a ficar sem clube. Verdadeiras joias do esporte como Marta, Cristiane, Formiga e Sissi, entre muitas outras, tiveram que desbravar um caminho tortuoso. A nova geração do futebol feminino promete, mas terá que lutar muito ainda, dentro e fora dos gramados.