No dia 20 de fevereiro, o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), organização morenista completamente desmoralizada pelas suas posições abertamente pró-imperialistas, publicou um artigo, assinado por Jeferson Choma, de título Polêmica com Zé Dirceu: Se há risco de ditadura, como devemos enfrentá-lo?. No texto, os morenistas afirmam concordar, em linhas gerais, com a análise do petista José Dirceu sobre o avanço da extrema-direita; no entanto, dedicam-se a criticar Zé Dirceu e o Partido dos Trabalhadores (PT) por supostamente terem colaborado para a vitória do bolsonarismo.
“A culpa é do PT”
No trecho abaixo, o PSTU deixa claro sua tese de que o avanço da extrema-direita é um fenômeno decorrente da política petista:
Dirceu reconhece o erro de não se passar a história a limpo, especialmente no período da ditadura militar. Mas o que ele não explica é que os mais de 13 anos de governo do PT colaboraram e muito para a preservação dos militares. Nem Lula, nem Dilma abriram os arquivos da ditadura para que a história pudesse ser passada a limpo. O resultado é que no Brasil, ao contrário da maioria das ditaduras da América Latina, os crimes cometidos pelo regime militar não foram expostos publicamente, e os generais e torturadores do regime não foram presos, como na Argentina ou no Uruguai, por exemplo. Por aqui, de certa forma, a imagem das Forças Armadas fora preservada do sangue que jorrou naqueles tempos. Mesmo Dilma Rousseff, que foi presa e torturada pela ditadura, impediu a apuração e a punição dos criminosos, para não alimentar “revanchismos”, como dizia na época.
Evidentemente, qualquer pessoa que queira criticar algum dos governos do PT irá encontrar algum erro cometido pelos seus dirigentes. O partido, afinal, que é um dos maiores partidos de esquerda do mundo, é composta por uma série de setores com interesses conflitantes e se apresenta como um partido reformista — isto é, um partido que procura realizar reformas sociais em um período em que o capitalismo já não tolera mais reformas. No entanto, em um momento em que o próprio PT está sendo alvo de uma ofensiva da direita, criticar o PT é, frequentemente, o mesmo que se alinhar ao imperialismo.
E é exatamente esse o caso do PSTU. A crítica feita a Dirceu e ao PT não tem como objetivo orientar a esquerda e os próprios petistas a não cometerem erros futuros, mas sim responsabilizá-los pela situação em que o país se encontra. Contudo, o que chama a atenção é que, diferentemente de Dirceu e do PT que cometeram erros por causa da própria limitação da política reformista que defendiam, o PSTU, que se coloca como um partido revolucionário, resolveu colaborar direta e explicitamente com a direita em sua ofensiva para a derrubada do governo Dilma Rousseff e para a prisão do ex-presidente Lula.
Nada de “Fora Bolsonaro”
Em outro momento da crítica feita a José Dirceu, Jeferson Choma decide atacar a posição do petista por propor uma política eleitoral:
Mas a luta de classe passa ao largo de Dirceu. Sequer menciona em seu texto a greve petroleira que, repito, é a luta mais importante neste momento e precisa ser fortalecida e abraçada pela população. Uma derrota do movimento poderia, inclusive, repercutir no fortalecimento do governo e nos deixaria mais próximos do risco do projeto ditatorial e colonial de Bolsonaro. Impedir esse cenário é apoiar a greve e chamar a unificação de todos que lutam contra o governo, rumo à greve geral para derrotar Bolsonaro e Mourão já.
Mas, para Dirceu, a resistência só é possível na conformação de frentes eleitorais. Isso não está no artigo de Dirceu, mas está na ação prática de seu partido. Em propor aliança com a burguesia e seus partidos, e, se governo, aplicar a mesma política econômica neoliberal de Paulo Guedes, vide a reforma da Previdência implementada pelos governos petistas do Piauí e do Rio Grande do Norte.
Se Dirceu avalia que estamos às portas de uma nova ditadura, ele e seu partido deveriam no mínimo chamar a resistência nas ruas. Ou eles acham que uma ditadura pode ser impedida por eleições? Esperar até 2022 é jogar perigosamente com a barbárie (e não contra ela), em um sistema capitalista que só prepara novas catástrofes, sejam elas econômicas, sociais ou ambientais. Ao invés de chamar unidade para lutar e derrotar o projeto político autoritário e econômico de barbárie de Bolsonaro, o PT continua desmoralizando a classe trabalhadora com suas frentes eleitorais com a burguesia.
Essa passagem é um verdadeiro escárnio contra os próprios leitores da imprensa morenista. Em primeiro lugar, afirmar que Dirceu ignora a greve dos petroleiros é puro cinismo do PSTU, uma vez que o partido fez de tudo, conforme denunciado por este diário, para impedir que a mobilização da categoria se desenvolvesse.
Em segundo lugar, criticar Dirceu por esperar até 2022 é o mesmo que o PSTU criticar sua própria política. Afinal, o mesmo partido, que outrora fizera questão de ir para as ruas pedir a saída de todos, agora se mostra incapaz de lançar a palavra de ordem de “Fora Bolsonaro”.