Nesse mês, se estivesse vivo, Anselmo Duarte (1920-2009) – ator, roteirista e cineasta brasileiro – completaria 100 anos de idade. Nascido em Salto, no interior de São Paulo, onde teve o primeiro contato com o cinema, Anselmo, já aos 10 anos auxiliava seu irmão – projecionista do cinema local – molhando a tela por trás para conter o risco real de incêndio das projeções da época. Reproduziu a técnica no filme O crime do Zé Bigorna (1977), penúltimo longa metragem que dirigiu.
Sua estreia no cinema foi no Rio de Janeiro, então capital do país, como ator na comédia romântica Querida Susana (1947), contracenando com Tônia Carrero, também estreante, dirigidos por Alberto Pieralisi. Após trabalhar como datilógrafo e estudar economia em São Paulo, foi tentar a sorte na cidade maravilhosa, marcando o início de seu triunfo, em 1942, como figurante nas filmagens de It’s All True, filme inacabado de Orson Welles, diretor do clássico Cidadão Kane (1941) – considerado um dos melhores filmes de todos os tempos.
Pelo aprendizado do cinema narrativo clássico, tendendo ao cinema acadêmico, nas chanchadas da Companhia Atlântida e nos melodramas da Companhia Cinematográfica Vera Cruz que se tornou um dos principais galãs do país, tendo seu ápice também como diretor na conquista da Palma de Ouro em Cannes, em 1962, com o filme O Pagador de Promessas – peça mais marcante do escritor e roteirista Dias Gomes. Em Cannes, passou na frente de O anjo exterminador de Bunuel, de O eclipse de Antonioni, de O processo de Joana d’Arc de Robert Bresson, entre outros, encantando o mundo com a beleza e a sensualidade malemolente do barroco baiano, da capoeira, do candomblé, e dos conflitos e preconceitos religiosos e sociais do cotidiano brasileiro.
Anselmo Duarte polemizou com o Cinema Novo, trabalhou no cinema autoral, mas marcou mesmo no cinema mais convencional e popular, retratando o povo e a cultura do país. Morreu aos 89 anos como um dos maiores galãs e cineastas brasileiros.





