Enquanto a pandemia segue fora de controle, o governo estadual do Rio de Janeiro prorroga demagogicamente algumas medidas restritivas. Governador em exercício devido ao afastamento de Wilson Witzel, Cláudio Castro publicou na última sexta-feira um decreto prorrogando medidas como a suspensão de eventos com a presença de público e a permanência nas praias.
O caráter meramente repressivo e demagógico dessas medidas, que visam criar um efeito de “cortina de fumaça”, fica explícito quando contrastadas com a programação para o retorno das aulas da rede estadual para o início de outubro e com o anúncio do retorno do público aos jogos no Maracanã para o mesmo período. Por acaso milhares de pessoas num ambiente restrito como um estádio de futebol (que além das arquibancadas conta com banheiros, lanchonetes, filas), sem contar os transportes coletivos para acessar os jogos, é menos perigoso do que as pessoas frequentarem as praias?
A pressão pelo retorno das aulas presenciais está relacionada a toda uma cadeia de atividades econômicas e não a toa o fenômeno é observado em nível mundial. Para não se opor frontalmente às diretrizes dos capitalistas, os políticos direitistas lançam mão de medidas inócuas e repressivas como as multas.
Os repetidos exemplos negativos de retorno às aulas são sistematicamente ignorados mundo afora. Israel, Coréia do Sul e EUA, entre outros, tiveram experiências de reabertura sucedida por novas ondas de contágio.
Enquanto sindicatos de professores defendem a volta às aulas apenas com o fim da pandemia e com vacina, propagandistas da reabertura relativam a importância de esperar por uma vacina. Entre eles temos o ilustre Dr. Marcos Boulos, membro do comitê de crise do coronavírus do Governo BolsoDória, que afirmou em recente entrevista que “A vacina não resolve tudo. Não sabemos se teremos vacina. E terceiro que talvez nem precisemos de vacina”. A declaração apareceu no portal Vermelho, ligado ao frenteamplista PcdoB, numa matéria intitulada ““Pandemia vai passar”. Brasil registra queda no contágio”.
O progressivo avanço rumo à abertura total só pode ser enfrentada pela mobilização popular. Enquanto amplos setores da esquerda procuraram inviabilizar as manifestações de rua, se escondendo com a campanha “fique em casa”, milhões de trabalhadores tiveram que manter sua rotina de aglomeração nos transportes públicos pois a quarentena foi restrita a setores de classe média.
Mesmo agora com a ameaça criminosa de retorno das aulas presenciais, a mobilização popular enfrenta resistência dentro da própria esquerda. Para salvar vidas, como alguns adeptos do “fique em casa” bradavam nas redes sociais, é preciso romper com o imobilismo e colocar os sindicatos e demais organizações populares da cidade e do campo em ação.