A luta e o enfrentamento à pandemia do coronavírus no país vem revelando situações muito curiosas, e também esclarecedoras, na medida em que deixa em evidência e relevo o caráter político e ideológico das forças políticas nacionais, particularmente da esquerda e seus representantes nas diversas instâncias de poder.
O caso em questão aqui diz respeito a um dos nomes de maior destaque no terreno da intitulada “esquerda progressista”. Trata-se do governador maranhense Flávio Dino, que vem sendo apontado como um dos nomes que encabeçaria uma suposta chapa do campo da “esquerda” para a disputa das eleições presidenciais de 2022, em oposição às candidaturas de extrema-direita e mesmo da direita “civilizada”.
Flávio Dino (PCdoB) seria, portanto, o candidato da tal “Frente Ampla”, ajuntamento de partidos da esquerda pequeno-burguesa, centrista, parlamentar e institucional, associados a elementos oportunistas, fisiológicos e abertamente burgueses, como Ciro Gomes, FHC, Rodrigo Maia e outros de menor brilho, mas igualmente inimigos dos trabalhadores.
O governador maranhense vem sendo exaltado como um dos gestores estaduais de melhor desempenho no enfrentamento à epidemia da Covid-19, adotando, em um dos Estados mais pobres e miseráveis do país, uma política sanitária hipoteticamente eficaz, em benefício da população.
De imediato, é necessário colocar em dúvida essa suposta eficácia no enfrentamento à pandemia, pois o Estado governado por Dino apresenta números nada confortáveis no que diz respeito às estatísticas tanto de infectados (15.144) como de óbitos (634). Trata-se, evidentemente, de números oficiais, que não consideram a enorme subnotificação – verificada em todo o território nacional – de casos e óbitos, visto que não há testes, diagnósticos e outros meios de verificação do estádio atual da epidemia no país.
O Estado do Maranhão está entre as unidades da federação que decretou o chamado lockdown, como recurso para, supostamente, aumentar o isolamento social e, dessa forma, conter a disseminação do vírus. Trata-se da mesma política teatral e de encenação de outros governadores (Dória/SP e Witzel/RJ), que, a pretexto de combater o vírus, atacam a população, privando-a de direitos, fazendo uso de ameaças e repressão; por outro lado, agradam os capitalistas e a classe média, flexibilizando as medidas de isolamento (que, na prática, não existe para a população trabalhadora), com a reabertura do comércio, das fábricas e demais serviços, o que obriga a população pobre e explorada a se expor à contaminação, pressionada pelos patrões a irem trabalhar.
Qual a diferença entre essa política e aquilo que vem sendo adotado pela direita e pela extrema-direita? A rigor, não há nenhuma diferença. Ou elas se manifestam apenas no plano superficial? Pois, em essência, são as mesmas, com os mesmos efeitos perversos para os trabalhadores e a população explorada. Dessa forma, o que a “Frente Ampla” tem a oferecer? O que propõe a “Frente Ampla”, integrada por “progressistas”? Ao não se diferenciar, em seus aspectos essenciais, da política reacionária e repressiva da direita e extrema-direita, o candidato dos “progressistas” se iguala a elas, não se apresentando nem mesmo como uma alternativa da “esquerda burguesa” às eleições presidenciais.
Nesse sentido, o decreto do governador Flávio Dino é uma cópia fiel do que vem sendo adotado pelos governadores direitistas, repressores, que usam e abusam da ameaça, da violência e da intimidação contra a população pobre e indefesa, para supostamente apresentarem resultados (falsos e totalmente ineficazes) no combate à epidemia da Covid-19. Aqui, fica exposta toda a miséria da “Frente Ampla”, que não consegue ser nada mais do que uma pálida caricatura da face quixotesca e patética da direita e da extrema-direita nacional, amplamente repudiadas pelas massas populares.