As eleições municipais de 2020, conforme o prognóstico do Partido da Causa Operária, serviram para que a direita avançasse ainda mais sobre o regime. A direita golpista, representada por partidos como o DEM e o PP, cresceu muito, embora não tenha popularidade nenhuma. A esquerda perdeu várias prefeituras — o PT perdeu 75 em relação a 2016 e o PCdoB perdeu mais da metade de suas prefeituras. E isso tudo pelo mesmo motivo: em geral, a esquerda pequeno-burguesa optou pela política de frente ampla, de aliança com a direita, e não da luta pelo Fora Bolsonaro. Nesse ambiente direitista, até mesmo o PCO, que participa das eleições apenas para convocar os trabalhadores à luta, e não para galgar cargos, foi duramente atingido: vários candidatos foram indeferidos pela Justiça golpista e alguns deles, como é o caso de Victor Assis, candidato a prefeito do Recife, sequer tiveram seus votos divulgados.
Apesar dessas condições extremamente desfavoráveis, teve um partido de esquerda que apresentou um tímido crescimento: o PSOL. Mas isso não aconteceu porque o PSOL enfrentou a direita e chamou os trabalhadores para lutar pelo Fora Bolsonaro. Muito pelo contrário: o PSOL está se tornando, junto com o PCdoB, o partido oficial da frente ampla com a direita golpista, a mesma que derrubou Dilma, prendeu Lula e ajudou a eleger Bolsonaro.
Tanto é assim que o fascista Sérgio Moro elogiou a “performance” do PSOL nas eleições, dizendo que teria se tornado um partido “relevante”. Vários jornais burgueses também destacaram que o PSOL teria se tornado um partido importante para a esquerda. Obviamente, isso não é verdade, visto a quantidade ínfima de prefeitos que elegeu. Mas fica uma questão: como o PSOL está conseguindo se tornar o partido “oficial” da esquerda?
Além do fato de que o PSOL estar sendo impulsionado pela burguesia como forma de tentar diminuir a polarização, é preciso apontar que esse partido só conseguiu avançar na sua política de frente ampla porque o maior partido de esquerda do País, o PT, tem permitido. E o caso de São Paulo é o mais escancarado.
A ida de Guilherme Boulos para o segundo turno é uma falsificação completa. Uma operação da burguesia para transformar um professor de psicanálise, sem qualquer vínculo real com o movimento operário, em uma “liderança” da esquerda. Nesse sentido, é preciso destacar que nem mesmo uma liderança verdadeira do MTST Guilherme Boulos de fato é, mas apenas um burocrata, que recebeu a coordenação do movimento de presente. Tanto é assim que a sua “base”, isto é, os sem teto, são lulistas, e não um eleitorado efetivo do PSOL.
Boulos só teve um relativo sucesso em se apresentar como uma nova liderança da esquerda porque o PT não denunciou essa operação. Em momento algum, o PT denunciou que o PSOL, junto com a Folha de S.Paulo, a Revista Veja se articularam para afundar a candidatura de Jilmar Tatto. A fraude Boulos, a operação de fabricar um líder de esquerda cujo único fim é reciclar o lixo da direita golpista, nunca foi combatida pelo PT. Muito pelo contrário: agora, Boulos receberá o apoio do PT.
A operação da frente ampla com Guilherme Boulos vai muito mais além de derrotar eleitoralmente o PT na cidade de São Paulo. A frente ampla é, no fim das contas, uma tentativa de fortalecer os partidos e figuras mais desmoralizadas do regime político, como o próprio PSDB. E o objetivo dessa direita não é conviver pacificamente com a esquerda, mas sim de destruir o PT e todos os setores que colocarem os planos dos golpistas em risco.
Nesse sentido, a política de capitulação diante de Guilherme Boulos apenas levará o PT a perder cada vez mais espaço e a ver a direita se fortalecer. Afinal, como o PSOL não tem base real nenhuma, não será capaz de deter o avanço da direita, na medida em que essa for se aproveitando da política de colaboração de classes com o PSOL. É preciso, portanto, abandonar as ilusões de formar uma “frente de esquerda” em abstrato e denunciar energicamente a fraude da frente ampla da burguesia contra a esquerda e os trabalhadores.