Marcelo Crivella, prefeito em exercício do Rio de Janeiro, capital do estado, foi preso na manhã desta terça-feira (22/12), faltando nove dias para encerrar seu mandato, já que o bolsonarista perdeu as eleições fraudulentas deste ano para o candidato do DEM, Eduardo Paes. A prisão foi efetuada pela Polícia Federal e Crivella foi afastado do cargo pela justiça golpista, o que é uma arbitrariedade total. O prefeito do bolsonarismo denuncia a prisão como uma prisão política.
No momento da prisão, estavam presentes cinco agentes da Polícia Civil e da Polícia Federal. Os agentes chegaram na casa do prefeito antes das 6 horas da manhã, um horário conhecidamente lavajatista de se efetuar uma prisão. A defesa de Crivella entrou com habeas corpus na própria terça-feira, e considerou a prisao ilegal. Crivella foi levado para a Delegacia Fazendária, na Zona Norte da cidade, e participou de um teatro, que o Judiciário chamou de “audiência de custódia”, com a desembargadora Rosa Helena Penna Macedo Guida, que decretou sua prisão, baseado em uma operação chamada de “QG da Propina; novamente, uma prisão com base na “luta contra a corrupção”.
O Republicanos, partido de Crivella, no mesmo dia saiu em defesa do prefeito eleito pelo partido. Em nota, o partido diz, com assinatura do presidente do partido, deputado Marcos Pereira: “A Executiva Nacional do Republicanos aguarda detalhes e os desdobramentos da prisão do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella. O partido acredita na idoneidade de Crivella e vê com grande preocupação a judicialização da política”. Isto é, o partido de Crivella vai na mesma direção do próprio e denuncia o caráter de perseguição política da prisão. O partido é uma sigla que agrupa o bolsonarismo, chegando a ter Flávio e Eduardo Bolsonaro, ambos filhos do presidente ilegítimo, sendo eleitos para cargos públicos pela sigla.
Fica evidente, pelos dados que temos, que se trata de uma prisão política o que acontece nesses dias no Rio de Janeiro. O estado é marcado há muito tempo, e isso se aprofundou drasticamente, por uma luta política intensa entre duas alas da burguesia que se configuram em uma verdadeira guerra de quadrilhas. E os exemplos dessa luta que se trava no interior do Estado, principalmente na capital, neste último período.
O último caso escandaloso foi o que aconteceu com o ex-governador Wilson Witzel, um antigo aliado de Bolsonaro. Witzel foi derrubado por um golpe de Bolsonaro, após se mostrar um aliado não muito confiável. Com um processo fraudulento, dizendo o o ex-governador nazista havia desviado verbas para o “combate ao coronavírus”. Rapidamente Witzel se via fora do governo para colocar no seu lugar um governo mais confiável para o bolsonarismo. E essa operação mostrou que o bolsonarismo estava não só disposto a entrar nessa luta, como fez uma ofensiva com essa operação, que preparou o clima das eleições precedentes. Agora na eleição municipal vimos novamente uma guerra de foices no escuro, entre Crivella, representando o bolsonarismo, e Eduardo Paes, representante da direita tradicional, que foi uma eleição ganhada na base da fraude completa e total. E agora prisão de Crivella. É relativamente fácil caracterizar que é uma derrota do bolsonarismo, seguida da já derrota que foi a perda da eleição, a incapacidade de fraudar mais que o DEM uma eleição.
Toda essa confusão e arbitrariedade se dá entre a luta de duas alas da burguesia. Uma burguesia regional, carioca, que se apoia no Bolsonaro e no bolsonarismo e uma burguesia de dimensão nacional mais ligada ao imperialismo e apoiada na direita tradicional, como Paes e o DEM e a Rede Globo. Desde 2016, nas eleições que Crivella se viu vitorioso, contra o candidato mais direitista do PSOL, Eduardo Freixo, que é um tradicional aliado da Rede Globo.
A esquerda agora comete o grosseiro erro de comemorar, junto à ala da burguesia mais pró-imperialista e neoliberal, a prisão de um cachorro morto na política. Com destaque à fala de Orlando Silva, do PCdoB: “Marcelo Crivella acaba de ser preso. Parece que o pé frio do Bolsonaro vai além das urnas. Marcelo Freixo também comemorou, dizendo: “O deputado bolsonarista Luiz Lima acaba de chamar Crivella, candidato de Jair Bolsonaro a prefeito do Rio, de mau gestor, corrupto e chefe de quadrilha. Pela primeira vez concordo com Luiz. A diferença é que ele se surpreendeu com o apoio de Bolsonaro a um bandido, e eu não.” E concluindo: “Witzel, Crivella… qual será a próximo aposta eleitoral de Jair que vai para cadeia?”. Até o deputado Paulo Pimenta do PT saiu a tona para comemorar. Dizendo: “Eu estou feliz? Eu estou satisfeito em vez mais um “mito” sendo desmoralizado? O que eu vou dizer pra voces?”
A esquerda volta ao erro de ficar eufórica e comemorar uma prisão arbitrária e dar legitimidade a um recrudescimento do regime político golpista, dessa vez com a direita “civilizada” chutando um cachorro morto da política.