Em entrevista no canal do DCM no Youtube, na última quarta-feira, dia 22, o candidato do PSOL à prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, ao ser questionado sobre sua participação no chamado “Movimento Não vai ter Copa”, afirmou que “é uma questão de princípios” e que “faria de novo”.
A justificativa de Boulos é que esse movimento, independente do governo Dilma, era formado para denunciar e lutar contra os despejos que estavam acontecendo por conta das obras da Copa do Mundo de 2014 no Brasil.
Boulos atribui portanto uma reivindicação concreta o movimento: a defesa da moradia. Trata-se de uma falsificação.
A questão da moradia, se é que em algum momento teve importância no movimento, foi cuidadosamente colocada em segundo plano. O teor político daquele movimento era muito claro: um ataque contra o governo Dilma.
Para quem tem dúvidas sobre isso, basta analisar o próprio nome do movimento: “Não vai ter Copa”. Um movimento é formado por determinadas palavras de ordem. Em geral, ele se unifica em torno de uma reivindicação central que aparece sintetizada numa determinada fórmula. E qual era essa reivindicação central: “Não vai ter Copa”, não era “contra os despejos”.
Desse modo, o movimento se tornou facilmente um alvo fácil de manipulação da direita. Basta lembrar que os jornais da imprensa golpista na época, já imbuídos na campanha contra o governo do PT, davam enorme destaque à turma de Guilherme Boulos que saía na rua.
E por que essa palavra de ordem era facilmente manipulável? Justamente porque seu teor político é muito genérico. Por que não deveria ter Copa? Depende do interesse de quem está usando tal palavra de ordem. Para a direita golpista, a Copa deveria ser um fracasso para não servir de propaganda para Dilma. Para alguns esquerdistas, poderia ser interpretado como uma luta contra a política dos capitalistas na Copa. Para outros, ainda, poderia ser uma campanha contra o futebol e a Copa do Mundo por si só.
Boulos em nenhum momento chegou a esclarecer tal confusão. Pelo contrário, reafirmava e jogava o movimento contra o governo Dilma.
Voltando à imprensa golpista, foi na mesma época que Boulos teve um espaço garantido semanalmente na Folha de S. Paulo onde escrevia artigos impulsionando o “Não vai ter Copa” e atacando o governo Dilma por políticas como o ajuste fiscal.
Por último, o cenário desse movimento, que aconteceu entre o segundo semestre de 2013 e o início de 2014, eram as eleições presidenciais de 2014. Ali, a direita, já decidida a derrubar Dilma, tentava sua investida golpista na eleição. Essa tentativa foi frustrada, o que obrigou a direita a utilizar o golpe do impeachment em 2016.