Na última sexta-feira (31), o Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) aprovou, de maneira definitiva, a pré-candidatura de Marília Arraes à prefeitura de Recife para as eleições de 2020. A decisão repercutiu em todo o País; afinal os conflitos entre a base do PT, que apoia Marília Arraes, e a ala direita do partido, que queria um acordo com o PSB em Recife, são uma das expressões mais patentes da crise interna da organização.
A aprovação não significa uma vitória permanente de Marília Arraes sobre a ala direita do PT, que tem, em Pernambuco, o senador Humberto Costa como principal representante. Foi deliberado que os filiados do PT que ocupam cargos na Prefeitura do Recife e Governo de Pernambuco, ambos comandados pelo PSB, poderiam permanecer onde estão.
É fato que a crise no interior do partido era tão grande que a direita não conseguiu impedir a pré-candidatura de Marília Arraes. No entanto, a burguesia segue procurando sabotar a petista a todo o custo. Nada mais natural, uma vez que Arraes esteve envolvida com a luta contra o golpe e a luta pela liberdade de Lula, além de ser apoiada pela base lulista do partido. O que chama a atenção, contudo, é que a esquerda e setores considerados como “aliados” da esquerda estão seguindo a política da direita para afundar a pré-candidatura de Marília Arraes.
O PSB, partido que apoiou o golpe de 2016, não vai apoiar Marília Arraes. Até aí, já é natural, uma vez que o partido tem a máquina pública nas mãos e não tem maiores compromissos com o PT. Mas não será esse o único adversário. O PDT, partido que é apresentado muitas vezes como um “aliado” da esquerda, decidiu, na semana passada, lançar uma candidatura própria, a do deputado federal Túlio Gadêlha.
O caso mais aberrante é o do PCdoB, talvez o partido que, nacionalmente, mais se coligou com o PT durante as eleições. Segundo declarações da presidenta nacional da legenda, Luciana Santos, o PCdoB deverá apoiar a candidatura do PSB em Recife. Até agora, não há uma definição.
O PSOL, atipicamente, declarou apoio a Marília Arraes. Segundo o que se especula na própria imprensa golpista, isso seria parte de um acordo para que o PT apoiasse a candidatura de Edmilson Rodrigues (PSOL), em Belém. Um setor do PSOL, do qual o ex-deputado federal Paulo Rubem faz parte, tem se colocado contra a decisão no Recife.
Seja como for, mesmo até que o PCdoB venha a declarar apoio à candidatura de Marília Arraes, é nítido que não há uma campanha sendo feita para que se forme uma “frente de esquerda” em torno da pré-candidatura petista. Uma situação diametralmente oposta ao que se vê em São Paulo, quando a esquerda pequeno-burguesa, impulsionada pela própria imprensa burguesa, tem feito campanha em defesa da “frente de esquerda” encabeçada por Guilherme Boulos.
O acontecimento só comprova que a “frente de esquerda” é apenas uma palavra de ordem para tentar forçar o PT a apoiar candidaturas artificiais da esquerda pequeno-burguesa, que servem apenas para cumprir os interesses circunstanciais da burguesia. Quando a força de uma candidatura do PT é incontestável, ninguém fala em “frente de esquerda”.