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No carnaval

Polêmica das fantasias: a esquerda identitária a serviço da direita

Censura, vigilância e repressão: tudo o que a direita golpista gostaria de fazer para atacar o carnaval

Na abertura do carnaval de um dos principais blocos de rua de São Paulo, o Acadêmicos do Baixo Augusta, no domingo (16) de pré-carnaval, a atriz Alessandra Negrini, madrinha do bloco, apareceu fantasiada de índia. O objetivo da vestimenta, segundo a própria atriz, era protestar contra os ataques e o massacre sofrido pelos indígenas, particularmente no governo Bolsonaro.

Não tardou para que parte da esquerda dita “identitária” procurasse impugnar a fantasia, afirmando, entre outras coisas, que seria ofensivo aos indígenas. A própria direita, aproveitando o debate, aproveitou para desviar o foco do protesto feito pela atriz. A Folha de S. Paulo, jornal golpista e um dos responsáveis pela presença fraudulenta de Bolsonaro no governo e por sua política de ataques à população, abriu o debate: “Alessandra Negrini fantasiada de índia: cancelada ou perdoada?”. A preocupação cínica do jornal golpista, que tem sido também apresentada por outros órgãos da imprensa capitalista, mostra que há um interesse da burguesia para promover essa ideologia identitária.

Ainda sobre o episódio da atriz é importante dizer que aqueles que a criticaram ignoraram o protesto contra Bolsonaro, ou seja, segundo essa concepção é mais grave se fantasiar de índio do que promover o seu massacre. E é exatamente esse o problema da ideologia identitária: substituir a luta política concreta por ideias subjetivas e moralista.

Mas não foi apenas nesse episódio que a direita abraçou as ideias identitárias. A defensoria pública do Ceará divulgou artes na internet para “conscientizar” os foliões sobre as fantasias que seriam “politicamente incorretas”. A prefeitura de Belo Horizonte divulgou cartilha também procurando mostrar quais fantasias são “permitidas ou não”.

Note nesse caso que a ideologia identitária já aparece como uma política oficial do Estado ou de instituições ligadas ao Estado burguês. Quer dizer, o Estado, controlado pela direita, adotou a política de vigilância sobre as fantasias do povo. Daí para a censura e um controle policialesco é um pulo.

E foi exatamente o que ocorreu em Salvador. Um folião, de maneira completamente ilegal, foi detido pela PM por estar vestindo um logotipo da polícia estilizado com o símbolo da maconha. Embora os casos pareçam diferentes, são semelhantes. O mesmo argumento usado para dizer que não pode se vestir de índio ou mulher também pode ser usado pela PM nesse caso: seria uma ofensa à instituição e apologia à maconha. No fim, o que une o caso é um ataque à liberdade de expressão por justificativas morais, seja elas quais forem.

Outro caso também chamou a atenção. No Rio de Janeiro, o bloco Cacique de Ramos, dos mais tradicionais do País, fundado em 1961, cogita, segundo informações do Globo, não sair na rua já que seus integrantes tradicionalmente se vestem de índio. Isso graças à pressão de setores que defendem o controle e a vigilância das fantasias.

Todos esses casos, em particular os dois últimos, deixam bem claro o sentido da política identitária. Na realidade ela serve à direita que procura se aproveitar de um pretexto pseudo esquerdista para estabelecer um regime de controle, censura e vigilância no carnaval com o objetivo de criar melhores condições para reprimir e retirar o povo das ruas.

Nada melhor do que uma justificativa moral para fazer com que um dos maiores blocos do Rio não desfile. Assim, aos poucos, a burguesia tira o povo das ruas e ao mesmo tempo cria um regime policialesco e repressivo no carnaval.

Isso porque o carnaval tem se tornado uma enorme manifestação contra o golpe e particularmente contra Bolsonaro. Já está claro que, ainda mais do que no ano passado, o povo na rua vai se manifestar contra o governo de extrema-direita. É preciso conter essa tendência, por isso o esforço por tirar o povo da rua e acabar com o próprio carnaval e sua espontaneidade.

É esse o sentido político da ideologia identitária que a esquerda pequeno-burguesa divulga de maneira completamente acrítica. É preciso se lembrar que no carnaval do ano passado, a pré-candidata presidencial Manuela D´Ávila do PCdoB fez um vídeo no Facebook para ditar regra dizendo  quais as fantasias podem ou não ser usadas.

A esquerda identitária mais uma vez mostra que está a serviço da direita.

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