A poucos dias do dia mais importante da vida de Guilherme Boulos, o professor de História da Arte da Unicamp, Jorge Coli, teve “a sensação de ouvir um futuro grande político nas entrevistas dadas por Boulos” que fala com a “dicção da sinceridade”. Foi o que escreveu na Folha de S. Paulo quando disse também ter sido “seduzido” pelo candidato do PSOL que pôs tudo no plano do debate e da racionalidade. Torcendo por um resultado que não pode prever nas urnas, o colunista da Folha arrematou: “Boulos se confirma como uma liderança promissora das forças progressistas”. Assim falou a imprensa capitalista.
Não foi a primeira vez que Boulos recebeu elogios nas páginas de um dos órgãos que foram instrumentais no sucesso do processo do Mensalão, na derrubada de Dilma Rousseff e na prisão de Lula. A revista Veja publicou um mês antes o artigo assinado por Matheus Leitão, “Boulos: o maior fenômeno eleitoral de 2020?” (creio que o ponto de interrogação tenha entrado aí como um erro de digitação). As correntes internas do Partido da Imprensa Golpista (PIG), como definiu o finado Paulo Henrique Amorim o monopólio da opinião pública por meia dúzia de famílias no Brasil, estão bem alinhadas.
Mas por que a imprensa capitalista acha Boulos tão bom? Por que ele seduz colunistas, surpreende especialistas e encanta jornalistas de órgãos que, por padrão, espumam de ódio quando falam da esquerda? É simples: ele “avança no eleitorado de esquerda, inclusive sobre simpatizantes do PT”, afirmou a coluna Maquiavel da revista Veja. A coluna de Lauro Jardim em O Globo foi inscrita para inspirar o eleitorado de esquerda “indeciso”: “para chegar lá [no 2º turno] é melhor apostar nele do que em outro nome que aparece mal nas intenções de voto”.
As palavras de uma fonte anônima (será mesmo uma fonte?) citadas pelo Globo resumem a questão: “Um petista do diretório nacional do partido resume: – A gente pode ganhar em 1 mil prefeituras. Mas se o desempenho em São Paulo for pífio e ficarmos atrás de Boulos, o nosso retrato nos jornais será o do fracasso”. Como assim será? Quem poderia ter dúvida de que a imprensa capitalista está apresentando Jilmar Tatto como um (senão o maior) fracasso do PT? Por que a Veja daria um título como esse: “Boulos se descola de França, humilha o PT e sonha com 2º turno”?
Boulos é “bom” segundo quem quer ver o PT morto e enterrado, sem chances de se levantar, com seu líder maior impossibilitado de concorrer à Presidência. Boulos é excelente se conseguir fazer com que o PT – e sua militância – fiquem atrelados à política de frente ampla, a reboque de um novo nome “de esquerda”,como Ciro Gomes (PDT-CE). Ele já até está ensaiando isso nessas eleições municipais.
Não à toa Boulos disse que 15 de novembro será o dia mais importante da sua vida. Ele certamente não vai realizar o sonho da prefeitura própria nesta data. Mas o fato de que os inimigos do povo, que mentem, caluniam e combatem sistematicamente o povo, os trabalhadores e a esquerda, estejam elogiando-o – e não acusando de invasor de propriedades, comunista ou petralha – diz muito sobre sua importância para a burguesia. Se o prognóstico das pesquisas de opinião que o colocaram tecnicamente em segundo lugar estiver correto, Boulos será convertido oficialmente em instrumento “de esquerda” para conduzir o eleitorado subtraído criminosamente de Lula a uma aliança com os inimigos do povo em uma frente ampla em 2022.