Na Bahia, a ascensão dos governos do PT no século XXI demonstrou o declínio do grupo carlista que dominou a política baiana desde a ditadura militar. Entretanto, curiosamente, apesar de estrondosas votações nas eleições presidenciais, com votações amplamente majoritárias principalmente para Lula em Salvador, o PT nunca conseguiu eleger o prefeito da capital baiana.
Após desastrosas gestões do PMDB, na primeira vez com apoio do PT e na segunda com apoio do DEM, o neto de ACM, herdeiro de parte do espólio político do avô, consegue estabelecer Salvador como um dos poucos rincões políticos do DEM no país.
Nas eleições municipais de 2020, o mito da “boa gestão” e da prefeitura “bem avaliada” pelo povo é mais uma vez alimentado pela imprensa capitalista, monopolizada pela família de ACM. O candidato do atual prefeito, Bruno Reis, um ilustre desconhecido, é apresentado como continuador da gestão de ACM Neto, e vem aliado com o PDT de Ciro Gomes, que tem enfaticamente defendido essa aliança “frente ampla” como o exemplo a ser seguido.
Entretanto, o grande problema nas eleições em Salvador é que a suposta dianteira do candidato de ACM Neto nas pesquisas eleitorais manipuladas tem servido para mais uma vez apresentar a ilusão de que o “povo” estaria satisfeito com o atual governo de Salvador, o que é evidentemente uma completa falácia.
Examinando mais de perto as diferentes candidaturas e como elas têm se comportado nestas eleições, podemos ver como as questões fundamentais estão sendo deliberadamente escamoteadas pelas principais forças políticas.
A particularidade dessa eleição é que o grupo dirigente do PT baiano vinculado ao governador Rui Costa tem aprofundado a política de frente ampla, e mais que isso, adota uma política de imitação da direita. Assim, após um processo bastante controverso, o PT lançou como candidata a prefeita de Salvador uma integrante do aparato policial, a Major Denice que, além de não ser uma militante do partido, representa uma candidatura de “segurança pública”, apresentando no jingle a ideia de “Major Denice na missão”, que “joga duro” em referência a sua condição policial. A imposição por parte do governador Rui Costa e da direita do PT já indica que a política da esquerda oficial em Salvador não é evidentemente o enfrentamento ao carlismo.
Mas também isto não é tudo, no último período, usando inclusive a pandemia da Covid-19, Rui Costa advogou a política de “boa vizinhança” com ACM Neto, montando a farsa da “convivência civilizada” entre o governador e o prefeito em nome da “saúde” e da “vida”, seguindo o script de Dória, Ronaldo Caiado, entre outros “governantes científicos”, que se apresentavam como “opositores” de Bolsonaro, mas no fundamental também não adotaram um plano efetivo de combate à propagação da Covid-19.
Pois bem, essa política continua prevalecendo na campanha da candidata do PT. Os principais problemas de salvador como o desemprego e o aumento das desigualdades não são abordados. A defesa do Fora Bolsonaro e dos direitos políticos do ex-presidente Lula nem se fala. Assim, o mundo fantasia da “boa gestão” não somente não é criticado, como é até mesmo ressaltado pela campanha do PT. A Major Denice, na sua campanha, apresenta como principal trunfo o seu padrinho político Rui Costa, afirmando que a “correria será dobrada”, entretanto, evita o embate direto com o candidato de ACM Neto, vinculando a noção que seria ela, e não Bruno Reis, a melhor opção para fazer “mais por Salvador”, ou seja, dar continuidade à gestão do DEM.
Sem nada oferecer de diferente, o PCdoB, que geralmente se aliava ao PT, apresentou a candidatura de Olívia Santana. Na última eleição, recebeu o apoio do PT para prefeitura de Salvador, perdendo para ACM Neto. Em 2020, em Salvador, o PCdoB resolveu aplicar a frente ampla com setores oriundos do carlismo, que compõem a base de Rui Costa. Assim, o vice é Joca Soares, do PP, partido da base de Bolsonaro.
Neste cenário, é importante compreender o papel que cumpre a candidatura de Rodrigo Pereira. O candidato do PCO teve uma militância destacada na luta contra o golpe em Salvador, e os principais articuladores do comitê de luta pela liberdade de Lula, além disso, é militante do movimento negro, atuando no coletivo João Candido. Apesar de todo cerceamento à campanha eleitoral do PCO em Salvador, com a exclusão em entrevistas e debates, a candidatura do PCO tem ganhado destaque, por ser exatamente a única candidatura que apresenta um programa de luta, em defesa dos explorados e coloca como eixo central a luta pelo Fora Bolsonaro e pela candidatura de Lula.
Um fato a ser destacado é que, diante da inexistência de uma política de luta e de enfrentamento contra o carlismo em Salvador, por parte das demais candidaturas dos partidos de esquerda, uma parcela dos militantes está se juntando na campanha do PCO na capital baiana, esse processo, ainda que embrionário, é um importante indicador da tendência de luta que se desenvolve entre os explorados, especialmente entre jovens.