Por Eduardo Vasco
O Arditi del Popolo (algo como Os Valentes do Povo) foi uma milícia popular italiana formada em junho de 1921 por militantes de esquerda descontentes com a política de tolerância adotada pelo Partido Socialista Italiano e pela esquerda em geral diante da ascensão do fascismo.
Desde o final da I Guerra Mundial, a Itália vivia uma agitação operária muito forte, com milhares de fábricas ocupadas e greves por toda a parte, enquanto no interior do país os camponeses iniciavam movimentos de ocupação de latifúndios.
Como reação à iminência de uma revolução proletária, a burguesia incentivou o surgimento de grupos de choque que reprimissem violentamente os trabalhadores, criando assim o movimento fascista, cujo principal líder era Benito Mussolini.
O Arditi del Popolo, portanto, adotou a mesma arma que o inimigo: organizou setores da classe operária em armas para combater os fascistas de igual para igual, a fim de cortar pela raiz o mal que o fascismo representava.
O Arditi del Popolo chegou a ter 20 mil membros espalhados por toda a Itália e obteve importantes vitórias em confrontos com grupos fascistas, demonstrando assim que a classe operária organizada em armas poderia vencer seu pior inimigo.
No entanto, a milícia foi boicotada pelo PSI e até mesmo pelo Partido Comunista Italiano, perdendo assim a maioria de seus membros. Isso se somou à política desses partidos de desmobilizar o movimento operário nas ruas e nas fábricas, ao mesmo tempo em que a burguesia partia para a ofensiva reforçando os esquadrões fascistas com todo o aparato repressivo do Estado. Finalmente, os últimos combatentes do Arditi del Popolo se encontraram sozinhos, sem o apoio da esquerda, e a milícia desapareceu no mesmo ano em que o movimento fascista tomou o poder e implantou uma ditadura que prevaleceu até o final da II Guerra Mundial.
Porém, o legado da primeira milícia popular antifascista permanece vivo e, com o crescimento da extrema-direita no mundo inteiro atualmente, o lema do Arditi del Popolo deve inspirar uma nova geração de cidadãos que não estão dispostos a conviver com a barbárie representada pelo fascismo. “Dal nulla sorgemmo” (algo como “nós surgiremos de onde vocês menos esperarem”) – eis o recado para os fascistas.