Está claro o despejo genocida em plena pandemia do Exército brasileiro nas pressões diárias para despejar a ocupação Ka’Ubanoko (localizado no bairro periférico Jóquei Clube de Boa Vista, em Roraima) onde vivem 900 pessoas. A turbidez da violência começa com ameaças psicológicas, movimentação das tropas no entorno da ocupação e manobras politiqueiras do palácio do planalto. Esse complicado duelo em desequilíbrio pode se tornar em uma guerra miliciana do Exército brasileiro contra a comunidade Ka’Ubanoko, esquecendo o verdadeiro papel das forças armadas.
A ocupação Ka’Ubanoko é constituída por seres humanos de diferentes origens étnicas (Warao, Pemon, Eñepa e Kariña) indígenas e migrantes venezuelanos não-indígenas, que se organizam formando uma comunidade autogestionária, mesmo com diferenças históricas. Durante cerca de 2 anos na ocupação, as distâncias étnicas foram trocadas por atos de solidariedade. Esses atos estreitou o modo como à ocupação superou os conflitos históricos, criando regras próprias conforme lideranças da Ka’Ubanoko.
“Depois de quase dois anos convivendo juntos, descobrimos a importância de superar os conflitos históricos, a fim de nós, juntos, construirmos um futuro melhor para os nossos filhos”
Portanto, o argumento descabido do Exército brasileiro que existem conflitos étnicos representa mais uma manobra do desacolhimento de 900 pessoas da ocupação Ka’Ubanoko, sem nenhuma evidência e estritamente especulativa para atender interesses privados do setor burgueses de Roraima e forçar venezuelanos migrantes retornarem para casa. A relocação sem sombra de dúvidas dos migrantes é uma oportunidade para ampliar a crise desumana e insensivelmente atraí os holofotes palacianos do ilegítimo presidente da república. O objetivo explicitado pelo Exército de evitar conflitos entre migrantes venezuelanos “criollos” e indígenas é uma mentira construída nas muralhas do palácio do planalto que evidência seus desejos irresponsáveis de governar um país, sem cuidar das pessoas e evidenciar claramente o preconceito étnico.
Entretanto, as lideranças da ocupação enviaram uma carta protocolada no Ministério Público Federal, Defensoria Pública do Estado e a Operação (Des)acolhida solicitando que a superestrutura burocrática reconheçam os seus direitos. A relocação da ocupação para abrigos causará tropeços desmedidos. Para as lideranças, os abrigos não são uma alternativa bem recebida, porque criam espaços incertezas para pessoas que têm a liberdade na “ponta dos pés”… Assim reafirma Leany Torres, vice-cacique indígena Warao da ocupação Ka’Ubanoko…
“Eles pensam que podem decidir por nós porque somos indígenas migrantes, mas conhecemos a nossa história, não somos migrantes, somos indígenas de América toda e temos direitos de consulta livre, prévia e informada.”
Os migrantes indígenas sabem seus direitos e vão reagir de todas as formas as provações da Operação (Des)acolhida. Obviamente, a Lei 14.010/20, implementada no mês de junho pelo Senado, proíbe ação de despejo de inquilinos até 30 de outubro de 2020, devido o reconhecimento da calamidade pública em decorrência do novo coronavírus. Depois deste prazo tudo é possível, mas segundo o defensor Natanael Ferreira a Operação (Des)acolhida não pode realizar seus despejos sem uma autorização judicial.
“Eles não têm o poder de polícia e não pode por si só sair fazendo esse tipo de coisa, eles não podem sair por aí levando as pessoas…”
As lideranças da ocupação se colocam em tom bem alto… “Não queremos ser dirigidos por nenhuma ONG, nem o Exército.” Vamos lutar por nossos direitos em qualquer condição!