Aproveitando a oportunidade de mais esta coluna, gostaria de redigir este pequeno protesto em relação a um determinado acontecimento do futebol.
Falo do tratamento da imprensa dado a Domènec Torrent, o técnico do meu Flamengo, que até o momento não mostrou a que veio.
A diretoria do Flamengo, após a polêmica saída do técnico português, Jorge Jesus, foi para a Europa em busca de um novo treinador para o time. Essa busca internacional gerou protestos de outros técnicos no Brasil, que acreditavam ter, aqui mesmo, técnicos de ótima qualidade para tocar o Flamengo, no que estão corretos.
Protestos, também, de torcedores, que não podem influenciar nem um pouco nas decisões das diretorias dos clubes, por isso a aberração Torrent. Também por isso a necessidade de fortalecer as torcidas organizadas, mas isso fica para outra coluna.
Enfim, trouxeram o ilustre desconhecido Domènec Torrent, auxiliar do famoso Pepe Guardiola, conhecido amante do futebol brasileiro. Até aqui, apesar das loucuradas dos cartolas flamenguistas, não tem muita novidade.
O que chama atenção mesmo é o tratamento mimado que a imprensa concede à Torrent, mesmo diante da constante falta de resultados positivos. Chegaram ao ponto de falar que a última vitória do Flamengo, um magro 1 x 0 contra um Santos que teve dois gols anulados, foi a “marca das digitais do novo treinador Torrent”, quando este vem, jogo após jogo, sofrendo muito para conseguir empates, contra qualquer time que seja.
Falam que o futebol europeu não se adequa aos jogos brasileiros, como se aqui fosse uma porcaria de futebol, uma selva, na verdade. Como se todos os clubes brasileiros fossem uma porcaria e que temos, rapidamente, que aceitar o chuveirinho, o futebol-força, as cadeiras numeradas europeias, o “barção”, a “champions league” e outros campeonatos fraquíssimos.
Quem, em sã consciência, acredita mesmo, seriamente, que estes times europeus aguentam, por exemplo, uma boa Série B do Brasileirão? Não fica um. Eu acho que o Real Madrid, por exemplo, fica uns bons 20 anos na série B, isso se não cair.
Se brasileiro fosse, ele, Torrent, já teria caído, já teria sido massacrado pela imprensa. Capaz que já estivesse em algum programa televisivo, pedindo dinheiro, chorando, ou dizendo que abriu uma academia. Teria sido um brasileiro na suplência de um português já apontado como “genial” pela imprensa, quando o máximo que fez foi aproveitar um elenco realmente bom que o Flamengo possuía e possui.
Eu falo sempre, no programa Na Zona do Agrião, do Andrade, o “Tromba”, atleta negro. Prata da casa, campeão
mundial em 1981, campeão brasileiro, como técnico do Flamengo, em 2009, com um elenco bem complicado. Campeão… e demitido em seguida, tendo sido registrado vídeos de seu sofrimento, e ele mesmo dizendo que se tratava de racismo o que estava acontecendo com ele.
Com o europeu, não. Toda a paciência do mundo deve ser concedida. Todo o fino trato, os elogios, as matérias compradas, as facilidades legais e supralegais, enfim, tudo de bom para que ele não seja equiparado aos brasileiros, esses sim, merecedores de toda humilhação, rebaixamento, críticas e desgraças.
Na marra, estão empurrando o futebol europeu contra o brasileiro. Os estádios vazios estão colaborando. O VAR, o agora criticado VAR, também. O futebol S/A, o código de conduta contra os jogadores, enfim, tudo que facilite a vida dos grandes empresários e capitalistas do futebol. Os grandes, que eu digo, são os europeus, estadunidenses, lógico, não os “macaquitos”.
Chegaria, por força de conclusão do texto, no caso Neymar Jr., poeta do futebol. Mas o racismo contra o melhor jogador do mundo da atualidade fica para a próxima coluna futebolística.