A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, declarou que a economia da zona do euro deve encolher entre 8% e 12% neste ano. No final do mês passado a previsão girava em torno de 3,8%. As autoridades monetárias europeias estão revendo todas as suas estimativas e irão aumentar significativamente em empréstimos e ajudas financeiras a Estados membros e empresas.
Ao programa emergencial de compra de ativos de 750 bilhões de euros (US$ 822 bilhões), lançado em março, e que irá provavelmente aumentar em breve, outros 750 bilhões de euros serão injetados nas economias nacionais pela Comunidade Europeia na forma de empréstimos e de subsídios. A maior parte desse dinheiro vai para Espanha e Itália, que receberão 313 bilhões. “No total, o Plano de Recuperação Europeu colocará 1,85 trilhão de euros para ajudar a impulsionar nossa economia e garantir que a Europa avance”, disse o Executivo da UE em documento intitulado “Momento da Europa: Reparo e Preparo para a Próxima Geração”. (Exame, 27/5/2020). O objetivo é proteger a economia e as empresas da Europa para que não fechem ou sejam compradas por capital estrangeiro.
A maior parte desse dinheiro terá por origem empréstimos que serão repassado aos países. Esse dinheiro deverá ser devolvido a partir do ano que vem. Por isso, já se adianta que os governos terão que aumentar ou criar impostos.
No Japão o plano é mais agressivo. A proposta que está sendo enviada ao Parlamento para proteger as empresas deve chegar a 1,1 trilhão de dólares, cerca de 40% do PIB daquele país. “Com o maior pacote político do mundo, a economia japonesa se manterá firme contra essa crise que ocorre uma vez a cada 100 anos”, disse o primeiro-ministro Shinzo Abe (Valor, 27/5/2020). Esse recurso será ajudará empresas a pagar alugueis, injetará dinheiro nas empresas em dificuldades e aumentará os valores pagos aos trabalhadores que estão em licença-remunerada.
A Alemanha foi o primeiro país a colocar em prática um plano agressivo de ajuda às empresas, deixando de lado qualquer restrição ao endividamento do Estado. O pacote alemão de março já era de 750 bilhões de euros, valor igual ao que foi adotado ainda naquele mês pelo Banco Central Europeu. Foi criado um fundo de estabilização econômica das empresas alemãs e um fundo para garantia de empréstimos, foi garantido o salários dos trabalhadores e aumentado o salário-desemprego.
Nos Estados Unidos, depois que mais de 26 milhões de trabalhadores foram demitidos, em abril, o governo lançou mão de um plano de ajuda a pequenas e médias empresas no valor de 320 bilhões de dólares. Mas a ajuda mesmo foi no plano de 2,2 trilhões de dólares voltado somente grandes empresas (UOL, 24/4/2020).
Esses pacotes gigantescos de empréstimos e financiamento ajudam o capital financeiro internacional a continuar girando pelo mundo. Por isso a interferência dos bancos centrais e as autorizações legislativas para afrouxar as regras para compra de títulos privados por autoridades monetárias nacionais. Não é só uma ajuda à manutenção da renda dos trabalhadores. O dinheiro envolvido nessa operação é uma fração mínima do recurso destinado aos bancos e grandes empresas, com alguma pequena variação para cima ou para baixo dependendo da região do planeta.
Sem esses aportes dos governos a economia capitalista iria para o buraco. Sem esses recursos as empresas fechariam as portas e os bancos iriam começar uma cadeia de quedas como pedras de dominó enfileiradas.
Além disso, o que os governos estão procurando evitar é que a crise econômica se transforme em uma crise política, com movimentos de massas de trabalhadores e desempregados forçando sindicatos a agirem e proporcionando o surgimento de partidos revolucionários. Essa realidade coloca em cheque todo um conjunto de argumentos e toda a propaganda que diz que o capitalismo é o único sistema possível e que é a maior fortaleza já construída pela humanidade.
Nada como uma crise para abalar os pés de barro do capitalismo.