No dia 16 de maio, pouco após o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) anunciar sua desistência da candidatura ao cargo de prefeito da cidade do Rio de Janeiro, o atual presidente da Câmara, o vigarista Rodrigo Maia (DEM) foi até as redes sociais prestar sua “solidariedade” ao ex-postulante. Disse o parlamentar golpista:
Eu e Marcelo Freixo pensamos de forma diferente em vários aspectos, mas as diferenças nunca foram obstáculos para o diálogo. Respeito muito a história do deputado. Recomendo a leitura da entrevista dele hoje ao Globo.
Ao leitor desavisado, poderia causar estranheza o fato de que o presidente da Câmara, que apoiou o golpe de Estado de 2016, a prisão de Lula e a candidatura do presidente ilegítimo Jair Bolsonaro, tenha elogiado a “história” de um deputado da esquerda nacional. No entanto, o atual debate da situação política permite encontrar a racionalidade por trás da declaração. Neste momento, em que a crise política se aprofunda no país, a burguesia procura colocar em marcha a operação da frente ampla, que nada mais é do que a aliança formal, sobretudo no âmbito parlamentar e eleitora, das organizações de esquerda com a direita tradicional. Refletindo essa operação, Freixo retribuiu o elogio de Rodrigo Maia, compartilhando a frase do presidente da Câmara e publicano a seguinte declaração:
A derrota do fascismo é importante inclusive para que as nossas diferenças possam existir e que a gente dispute democraticamente um projeto de país.
A frase do deputado do PSOL é bastante clara e põe em evidência o que este diário vem denunciando sistematicamente: que, sob o disfarce de “luta contra o fascismo”, os setores mais reacionários no interior da esquerda nacional vem defendendo qualquer tipo de aliança. No entanto, a escolha de Rodrigo Maia por Marcelo Freixo enquanto símbolo para essa operação não é à toa. Na verdade, a troca de afagos entre os deputados pelas redes sociais acabou por contribuir para que a própria desistência da candidatura no Rio de Janeiro fosse de fato compreendida.
Não é apenas o fato de que ambos trabalham na Câmara dos Deputados que Marcelo Freixo e Rodrigo Maia têm em comum. Ambos nasceram e foram eleitos no mesmo estado: o Rio de Janeiro, segundo estado mais importante do país. Rodrigo Maia, que herdou parte de seu capital político do seu pai, César Maia, é uma das raposas da política carioca, representando uma série de setores da burguesia local. E é também no Rio de Janeiro, igualmente alocado no DEM, que se encontra outra personagem-chave nessa história: Eduardo Paes, ex-prefeito do Rio de Janeiro.
E por que a história desses três elementos se cruz na desistência de Freixo à candidatura para prefeito do Rio de Janeiro? Ora, porque o grande beneficiário disso tudo será o próprio Eduardo Paes, que tem um histórico de relações com a esquerda nacional, quando era do MDB, e que deverá ser o candidato apoiado, de uma maneira direta ou indireta, pelo conjunto da esquerda pequeno-burguesa e da esquerda burguesa nas eleições.
Se Maia comemorou a saída de Freixo, não há porque a esquerda comemorar. É a prova de que o candidato da “frente ampla” será alguém ainda mais à direita do que o deputado psolista, que já havia sido apoiado por setores da direita como a Rede Globo nas eleições de 2016.