O empresário paulista Paulo Skaf já foi dono de fábrica de tecidos, depois passou a empresário da construção civil, mas tem conseguido sucesso mesmo é no “sindicalismo patronal”. Por três vezes foi candidato ao governo de São Paulo, primeiro pelo PSB e depois pelo MDB, em nenhuma delas conseguiu bom resultado. É o patrono do “pato amarelo da FIESP” (entidade patronal que preside), com o qual quis catalisar a campanha contra a presidenta Dilma, patrocinando grupos de extrema-direita.
Esse personagem, que é a cara da burguesia brasileira, em sua fragilidade econômica e descarada subordinação ao capital internacional, deu entrevista ao jornalista Fernando Rodrigues no jornal digital Poder 360 e ao programa Poder Digital da TV Bandeirantes, em 25/6/2020, afirmando que a pauta no Brasil (e no mundo) é a retomada das atividades econômicas. Sem qualquer base científica, afirma que a vacina que está sendo pesquisada pela Universidade de Oxford (Reino Unido) está em fase final de teste e que o Brasil, a exemplo dos Estados Unidos, já adquiriu matéria prima para sua produção. A única ressalva que faz é que isso “vai demorar ainda alguns meses”.
Isso, segundo ele, já justifica priorizar a retomada, “tomando os devidos cuidados com a saúde, mas fazendo a roda da economia voltar a rodar”. Criticando a forma como o governo de São Paulo administrou a crise sanitária, mostrou total desconhecimento da realidade de quem pega metro e ônibus na capital paulistana. De forma fantasiosa diz que tem que se retomar as atividades econômicas estabelecendo protocolos de distanciamento e controle de temperatura corporal nos trens, metrô e ônibus, criando horários diversificados para os turnos nas empresas. Para ele é “só fazer escala de horários para acabar com horário de pico” e aumentar o número de ônibus e trens e “aproveitando a nova onde de trabalho em casa”. Ao criticar a forma que os shoppings de São Paulo estão abrindo (durante quatro horas diárias), sugere que abram durante 12 horas “para diluir o público”.
Segundo afirmou na entrevista, no caso da indústria, vários setores não pararam e tomaram todas as medidas necessárias, alguns outros setores “que não podiam desovar sua produção porque não havia transporte pararam mesmo em abril, mas já começaram a retomar em maio e voltando em junho, com base em um Plano de Retomada da Fiesp”. Também coloca na conta da Fiesp o uso de máscaras pela população. Pois dá a entender que uma campanha publicitária da federação patronal é que produziu esse resultado.
Para ele, os setores econômicos ligados ao agronegócio vão se recuperar logo e outros, como transporte aéreo, vão demorar mais. Informou que o comércio vendeu menos, mas não tão menos que antes. Informação esta que contraria todas as estatísticas recentes.
Embarcando na propaganda da extrema-direita do governo Bolsonaro, “assim como o BC (Banco Central) e o ministro Paulo Guedes (Economia) têm defendido, Skaf sinaliza que o fundo do poço da economia já passou. Disse que o Brasil e o mundo já tratam da retomada econômica como algo próximo” (Poder 360, 29/6/2020).
Skaf acredita que o essencial no curto prazo é o acesso ao crédito. Segundo ele, 60% das empresas que buscaram crédito recentemente já conseguiram, ao contrário de três meses atrás, principalmente porque o governo passou, com a MP 975/20 a assumir o risco do crédito no Fundo Garantidor de Investimento. Mesmo assim, com os juros existentes, acredita que isso só adia a morte da empresa, por isso disse que os empresários estão trabalhando no Congresso Nacional para mudar a MP, reduzindo juros e eliminando taxas.
Perguntado sobre estatísticas do desemprego, afirmou que em março e abril houve a redução de 1,2 milhão de empregos formar e 1,5 milhão de empregos informais. O resultado de maio e junho, para ele, também trará notícia de um forte aumento do desemprego, mas, a partir de junho, ele diz que há a possibilidade de uma redução no desemprego. Nesse momento fala que isso é um “chutômetro”. A base “científica” do que afirma é uma pesquisa com empresários para saber qual o grau de otimismo dos capitalistas. Por outro lado, lembra que “10 milhões de pessoas ficaram meses sem rendimentos, como os autônomos, milhões de trabalhadores também, alguns perderam emprego e outros tiveram redução salarial, redução de contrato de trabalho …”. Isso tudo, segundo ele, vai refletir no comércio, mas sua expectativa é que a partir de julho não aumente mais o desemprego.
Criticando o FMI, o presidente da FIESP acredita que haverá uma queda de 6% do PIB, com uma recuperação modesta em 2021, de forma gradativa.
Na política, simpatizando com o governo Bolsonaro, diz que ele é competitivo, que é o mais forte candidato neste momento. Destacando a proximidade com o governo, afirmou que “a agenda deste governo coincide com o que nós defendemos há muito tempo”. Por isso e por conta da pandemia, é contra o impeachment do Bolsonaro.
Algumas conclusões são imediatas a partir da entrevista do presidente da Fiesp. Ao falar em retorno das atividades, mostra total desconhecimento da realidade da classe trabalhadora, principalmente em São Paulo, já que parece condicionar o retorno ao trabalho à não existência de horário de pico com multidões no transporte, que afirma ser somente uma questão simples de organizar os turnos. O trabalhador que ouvir isso vai ter certeza que o sujeito é um maluco ou está manipulando. Por fim, fica clara a vinculação da burguesia paulista com o programa ultraliberal do Paulo Guedes. Apoiam e continuarão, mesmo em uma hipótese sem Bolsonaro, o programa econômico de extrema-direita.