No próximo domingo, 10, serão comemorados os 100 anos do nascimento da escritora Clarice Lispector. Sua gigantesca obra foi publicada em 40 países e traduzida para 32 idiomas. A principal característica de seu estilo é o chamado “fluxo de consciência”, em que o narrador coloca no texto seus pensamentos tais quais eles o acometem, sem o uso de estruturas formais, deixando ainda mais latente os conflitos da consciência humana.
Clarice Lispector nasceu em Tchetchelnik, na Ucrânia, em 1920, e chegou ao Brasil na cidade de Maceió, em 1922. Em 1925, mudou-se para o Recife e em 1935 para o Rio de Janeiro. Iniciou seus estudos na Faculdade Nacional de Direito em 1939. Começou a escrever seus primeiros contos a partir de 1940, entre eles “A Fuga”, “História Interrompida” e “O Delírio”, que foram publicados postumamente em “A Bela e a Fera” (1979). Após o término de seu curso de direito, em 1943, casou-se com o diplomata carioca Maury Gurgel Valente.
Por conta da carreira do marido, morou em diversos lugares ao redor do mundo, entre eles Nápoles, Suíça, Inglaterra e Washington. Entre os anos de 1944 e 1949, publicou os romances “Perto do coração selvagem”, pelo qual ganhou o prêmio Graça Aranha de literatura; “O lustre” e “A cidade sitiada”. Em 1959, separou-se do marido e teve que voltar para o Brasil, em uma situação de dificuldades financeiras.
Esse período de dificuldades não a impediu de publicar importantes obras, como o livro de contos “Laços de família” (1960) e o romance de 1964, “Paixão segundo G.H.”, que relata a história de uma mulher bem sucedida profissionalmente, mas que enfrenta um vazio existencial. Quando demite sua empregada e precisa fazer a faxina em seu quarto, se depara com uma barata e a come, encontrando, assim, o sentido para a sua vida. O conto “A Legião Estrangeira” (1964) também é desse período.
Em 1966, no dia 14 de setembro, Clarice dormiu com o cigarro aceso, o que provocou um incêndio que quase lhe custou a vida. A autora sofreu graves queimaduras pelo corpo, comprometendo principalmente a sua mão direita, que quase foi amputada. Sua última importante obra foi o romance “A hora da estrela”, de 1977, em que conta a história de Macabéa, uma nordestina que se muda para São Paulo para trabalhar como datilógrafa. Na metrópole, ela se apaixona por Olímpico de Jesus, que acaba trocando-a por Glória, colega de trabalho de Macabéa. Na obra, o narrador se concentra principalmente nos acontecimentos emocionais e afetivos da personagem principal. A realidade tem importância relativa, já que a autora se concentra nesse mundo mental das personagens.
Em novembro de 1977, Clarice Lispector foi diagnosticada com câncer generalizado. Ela faleceu um mês depois, no dia 9 de dezembro, um dia antes do seu aniversário de 57 anos. O legado deixado pela autora permanece até hoje, com uma obra de alcance internacional e sendo consagrada como uma das mais importantes escritoras brasileiras.