Com a correlação de forças alterada pelo golpe de 2016, muitos setores da esquerda vêm capitulando diante do avanço da direita, fato que as eleições municipais deste ano expõe abertamente. Nesse sentido, chama atenção uma aliança curiosa entre o PT e o PSL em algumas cidades do interior brasileiro.
O PSL, não custa lembrar (especialmente quando petistas parecem ter esquecido) é o partido pelo qual o presidente ilegítimo, Jair Bolsonaro (hoje sem partido), se elegeu em 2018, prometendo “fuzilar a petralhada”. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, a aliança entre ambos, PT e PSL se deu em seis cidades: Belford Roxo (RJ), Francisco Morato (SP), Ilha Solteira (SP), Palmeira dos Índios (AL), São Cristóvão (SE) e Trindade (PE).
A direita do PT repete a tática do vale tudo capitulando (sem luta) contra a perseguição imposta pela direita e o isolamento de setores da esquerda que se aliavam ao partido para pegar carona em seu prestígio eleitoral, principalmente de Lula.
É sabido que as eleições municipais tendem a ser um verdadeiro vale tudo, especialmente nas cidades mais distantes dos grandes centros. Isso é próprio da despolitização promovida pela burguesia e aceita de maneira acrítica pela esquerda. Contudo, em meio a um golpe de Estado no País, com regimes abertamente ditatoriais se formando em toda a América Latina e uma radicalização cada vez maior da direita, qual o sentido de repetir uma fórmula já testada, cujo fracasso se mostra de maneira inquestionável na figura do fascista que hoje ocupa a presidência da República?
Os inúmeros prefeitos e vereadores resultantes de décadas deste tipo de vale-tudo eleitoral nada fizeram para impedir o golpe de 2016, nem a prisão de Lula, nem sua proscrição e tampouco trouxeram força alguma à esquerda para impedir a ascensão do bolsonarismo. Com a posse do presidente golpista, nada fizeram também para impedir os brutais ataques contra a população e a classe trabalhadora, e mesmo diante de uma pandemia responsável por um genocídio de características inéditas contra os trabalhadores, os cargos ocupados pelo PT se mostraram absolutamente impotentes.
É preciso abandonar as ilusões quanto a natureza fraudulenta do regime político golpista. Alianças tão escabrosas quanto as divulgadas pelo TSE, não farão nada além de desmoralizar o partido e, pior, iludir a classe trabalhadora com promessas de uma normalidade institucional inexistente no País. Longe de fazer alianças capituladoras com partidos bolsonaristas, os famosos “acordos por cima” denunciados por Lula, que os trabalhadores precisam é de uma mobilização própria, a única arma segura para enfrentar o fascismo crescente e o golpe.