Uma pergunta aparece inevitavelmente quando o Partido da Causa Operária e, destacadamente, o companheiro Rui Costa Pimenta tratam da situação política nacional: “mas por que o povo não se revolta, se mobiliza e luta contra a direita?” O questionamento é legítimo, pois reflete o interesse de quem quer mobilizar e lutar, mais ainda diante das dificuldades do momento. As respostas que a esquerda pequeno-burguesa dá a ela, não.
Ouve-se frequentemente de dirigentes esquerdistas que o povo “não se mobiliza”, está “apático”, “paralizado”, é “inconsciente” ou, ainda, “as massas populares estão muito direitistas” e, no extremo, “viraram bolsonarista”. São frases capazes de desanimar qualquer pessoa de esquerda e deleitar a direita. Não é difícil concluir dessas máximas que a luta contra o governo do fascista Bolsonaro e todos os golpistas está quase (senão totalmente) perdida. Será mesmo culpa do povo que um golpe de Estado foi dado em 2016 e um fascista tenha chegado ao poder em 2018?
Um balanço da luta até aqui
Em última instância, de fato o impeachment não foi impedido, Lula não foi processado e preso e as eleições presidenciais não foram fraudadas porque o povo não se mobilizou amplamente para lutar. Para um observador desatento, isso parece justificar teses como as que vimos acima. Concluir que “o povo não se mobiliza contra a direita hoje” porque “o povo não se mobilizou contra a direita ontem”, contudo, não é um bom uso dos recursos mais elementares de lógica.
Para quem quer lutar, a análise do problema não pode partir dessa redundância inútil. Dizer que não há luta porque não houve luta não é um ponto de partida válido para quem não quer ficar prostrado diante dos acontecimentos. Não se trata de uma discussão sobre palavras, mas sobre fatos e acontecimentos reais, de uma experiência política que vem se processando durante os últimos oito anos.
É preciso dizer claramente: em medidas diferentes, houve luta contra o impeachment, contra os processos e a prisão de Lula e, de um modo geral, contra a ofensiva desfechada pelos golpistas, de Temer a Bolsonaro e o Congresso Nacional.
Essa luta, no entanto, não foi bem sucedida porque se deu em um terreno muito limitado. Não se desenvolveu e se aprofundou, não envolveu camadas decisivas da população explorada e oprimida pela direita. Por quê?
As direções são responsáveis, não o povo
Há uma causa para tudo isso. As coisas se deram desse modo porque as direções da esquerda e das organizações de massas vacilaram, se omitiram, nada fizeram ou mesmo lutaram abertamente contra a mobilização. Na sua luta política contra a burguesia e os inimigos do povo, as massas oprimidas precisam de uma direção. A política e a ação desta são decisivas para o sucesso da luta. As atuais direções da esquerda estão, nesse sentido, completamente desnorteadas.
Para mobilizar as massas, uns prometem uma solução vaga e um tanto misteriosa: “fazer trabalho de base”. Supõe-se que os que recomendam essa solução já a estejam colocando em prática. Se é assim, por que a questão continua sem resposta? Por que o povo não se mobiliza? É um círculo vicioso.
Outros luminares da esquerda vão direto ao ponto que lhes interessa: “vote em mim, porque minha candidatura vai derrotar fascismo”. Não têm política. Não fazem política pensando em levar o povo às ruas, à luta, e sim às urnas, ao voto. Não têm, evidentemente, o mesmo objetivo dos que formularam a famosa pergunta.
Faltou iniciativa, faltou política, faltou vontade
O povo não encontra nos partidos da esquerda parlamentar, pequeno-burguesa, reformista e moderada, uma liderança para se organizar para lutar. Eis o “X” da questão. Tanto os burocratas acomodados nos sindicatos e organizações populares, quanto os vereadores, deputados, senadores, prefeitos e governadores que se preocupam apenas com a próxima eleição, não servem para liderar uma luta popular. Deixados sem uma política correta, sem iniciativa, sem organização, sem direção, os trabalhadores teriam que se mobilizar por sua própria conta.
O Partido da Causa Operária empenhou todas as suas forças para promover essa mobilização desde o primeiro momento da ofensiva golpista – que identificamos lá pelos idos do julgamento do Mensalão em 2013. Sabíamos, desde o início, que não seria o suficiente. Dirigimos sistematicamente nosso apelo aos sindicatos, organizações populares, movimentos e partidos de esquerda que se somassem ao esforço de mobilizar e organizar o povo trabalhador em todas as etapas dessa luta.
Nosso chamado não caiu em ouvidos moucos. Pelo contrário. A intervenção do PCO e a reação de uma parte dessas organizações e seus dirigentes levou às ruas diversas manifestações, realizou greves e protestos em uma campanha nacional. O problema é que não foi o bastante.
A campanha de rua não atingiu tantas pessoas quanto deveria – faltaram materiais, gente para distribuir etc.
A mobilização dos sindicatos e movimentos sociais não alcançou suas bases, parando a meio caminho entre as cúpulas e os setores já organizados em suas estruturas.
Faltou decisão e firmeza, e também uma concentração maior de esforços, quantidade, qualidade, intensidade e ritmo na luta política para fazer a campanha se tornar uma ampla mobilização popular de fato. Faltou, principalmente, uma compreensão clara da parte das direções políticas sobre o caráter da luta em andamento, suas consequências etc.
Em suma, a luta contra o golpe não avançou, principalmente por falta de uma firme direção política para o movimento de massas. Mas isso não deve desesperar quem quer levar a luta adiante, nem ser tomado como obstáculo intransponível. Sempre há um caminho para quem sabe onde quer chegar.
As tarefas de um partido revolucionário
O fato de que as direções da esquerda não consigam, não queiram ou simplesmente não mobilizam as massas tem que ser compreendido à luz da história da luta de classes internacional, da experiência política da classe operária brasileira e de uma teoria revolucionária, o marxismo.
Afinal de contas, perguntas como “por que o povo não se mobiliza?” e “como mobilizar o povo?” só têm interesse para quem tem como objetivo final o socialismo e compreende que o único caminho para chegar a esse estágio superior da história da humanidade é preciso uma revolução proletária. Ou seja, responder a essas perguntas e, mais do que isso, colocar em prática a solução para esses problemas interessa diretamente aos trabalhadores e o povo explorado e oprimido.
É tarefa, portanto, de quem quer levar a luta política atual às suas últimas consequências, construir um partido operário, revolucionário e de massas, uma direção consciente que abra o caminho para que os trabalhadores avancem, lutem, não só diante dos obstáculos às suas reivindicações imediatas, como pelos seus objetivos estratégicos: a revolução, o governo operário e o comunismo.