A esquerda pequeno-burguesa, de modo geral, foi envolvida na operação eleitoral da direita golpista. Um efeito da política de frente ampla é colocar a esquerda a reboque da direita sob a alegação de que esses setores dos golpistas seriam “menos piores” do que os bolsonaristas. Trata-se de uma falsificação, mas foi com essa política que nas eleições a esquerda defendeu a política de que, não sendo Bolsonaro, qualquer direitista poderia ser apoiado.
Foi essa consideração que levou a esquerda a apoiar Eduardo Paes, do DEM, no Rio de Janeiro. Um candidato do partido da ditadura, que inclusive faz parte da base do governo Bolsonaro. Tudo isso em nome de que derrotar Crivella era a tarefa mais importante. De um modo geral, essa política do “mal menor” está induzindo setores da esquerda a votarem na direita nas eleições. Dito de outra maneira, a cada jogada na situação política, a esquerda se vê cada vez mais comprometida com a direita e adaptada a ela.
A mesma política no Congresso Nacional
Nem bem a direita ganhou as eleições municipais, a burguesia já se prepara para um novo golpe de Estado. A direita levou ao STF a possibilidade de reeleição para a presidência da Câmara e do Senado.
Nitidamente, em nome de uma manobra política para manter Rodrigo Maia na presidência da Casa, a direita prepara um novo golpe, passando por cima da Constituição Federal. Permitir que um determinado grupo passe por cima da Constituição para se manter no poder, é um golpe de Estado. É uma etapa do golpe e um aprofundamento deste.
O STF, por maioria apertada, não referendou essa manobra, o que não significa que a direita irá desistir do golpe. As contradições internas da burguesia podem fazer aprofundar a crise no regime político.
A esquerda pequeno-burguesa, que defende a política do “mal menor” não criticou a tentativa de golpe. Isso porque essa esquerda prepara o apoio ao candidato do DEM na eleição para a mesa da Câmara.
Golpe de Estado permanente
O apoio à burguesia dita “civilizatória” é o apoio ao golpe de Estado permanente. A cada movimento da direita ela vai destruindo todos os direitos políticos da população e levam o País a uma situação de ditadura.
A situação vai se desenvolvendo a um tal ponto que chegará o momento em que a direita se sentirá à vontade para chamar um processo constitucional para oficializar a ditadura contra o povo. Não há uma resistência séria da oposição contra esse movimento da direita.
Pelo contrário, a esquerda não apenas não opõe nenhuma resistência às etapas do golpe como apoia muitos desses lances golpistas, em nome de que se estaria combatendo Bolsonaro.
A esquerda parlamentar está sendo envolvida na política da direita graças à ideia de que há um mal menor em relação ao bolsonarismo.
Esse “mal menor” no entanto não é nada mais do que uma farsa, resultado de uma propaganda da própria direita que procura, no terreno eleitoral, encontrar uma alternativa a Bolsonaro.
Essa alternativa, no entanto, não sai do terreno meramente eleitoral. Foi justamente a direita golpista tradicional, que a esquerda pinta como “civilizada”, a responsável pela eleição de Bolsonaro. Os principais articuladores do golpe de 2016 foram PSDB, DEM e MDB, para isso soltaram os cães bolsonaristas. Os principais articuladores da prisão de Lula, fraude eleitoral que facilitou a vitória de Bolsonaro, foram os mesmo elementos da “direita civilizada”. Essa direita, ao não conseguir emplacar seu candidato, acabou apoiando Bolsonaro.
Tudo isso mostra que o apoio da esquerda ao “mal menor” tem como único sentido ficar a reboque da direita. Fica claro, primeiro, que não se trata de “mal menor”, como poderia ser verdadeiro isso se foi justamente essa direita a principal responsável pelo próprio bolsonarismo.
Em segundo lugar, essa política do “mal menor” mostra a ausência de uma política independente. Na ausência dessa política, a esquerda aposta que será a direita que será a solução para os problemas do País. E assim, a esquerda vai se adaptando cada vez mais ao golpe.
Quanto mais essa ideia do “mal menor” se desenvolve, mais a esquerda se vê obrigada a apoiar a direita em todas as ocasiões. É exatamente essa a política ideal para a direita tradicional na preparação para as eleições de 2022. Fazer com que a esquerda apoie um candidato da direita, em nome da oposição a Bolsonaro.
Não é possível saber como irá terminar a disputa no STF em torno da possibilidade de reeleição de Rodrigo Maia, mas a esquerda parlamentar já mostra sua disposição em apoiar o candidato do golpe.
Um apoio ao bolsonarismo
A política do “mal menor” leva ao fortalecimento do próprio bolsonarismo. Na falta de uma política independente, que enfrente o regime político golpista com suas próprias forças, a esquerda parlamentar se torna parte do regime.
Ao se adaptar ao regime, a esquerda se coloca não como uma força real de oposição ao bolsonarismo, mas um apêndice da direita. A extrema-direita cresce na oposição, mesmo que demagógica, ao regime político cada vez mais podre e como já vimos, na medida em que a direita tradicional não consiga se opor ao bolsonarismo vai partir para apoiá-lo, como fez em 2018.
Nas eleições isso ficou muito claro. No Rio de Janeiro, o apoio a Paes, do DEM contra o bolsonarista Marcelo Crivella do Republicanos. Aqui, a esquerda apoio um candidato do partido da ditadura que em bem terminou a eleição ligou para Bolsonaro demostrar as intenções de trabalhar juntos.
Já em São Luís do Maranhão, o PCdoB do governador Flávio Dino, apoiou o candidato do mesmo Republicanos, Duarte Jr., que acabou derrotado pelo candidato Eduardo Braide do Podemos. Numa eleição, entre um bolsonarista e outro bolsonarista, a esquerda decidiu pelo “mal menor” bolsonarista. Parece piada, mas mostra a farsa de tal política e mais ainda aonde ela levará a esquerda, cada vez mais à direita.
Nesse momento, a única política independente passa por organizar uma ampla campanha pelo fora Bolsonaro e todos os golpista, opondo à direita a candidatura de Lula, que é o nome capaz de unificar a população e a esquerda e cuja candidatura coloca em xeque o própria regime político.