Por Rui Costa Pimenta
A situação da pandemia no Brasil, digam o que disserem os governos e a imprensa capitalista, está fora de controle. Os brasileiros sequer sabem quantas pessoas morreram em consequência do vírus até o momento.
Bolsonaro ignora o problema e aposta na impossibilidade de manter o isolamento social, mostrando-se como a voz mais explícita das intenções dos capitalistas.
Os governadores, como já mostramos desde o início, têm somente uma bala na agulha: o isolamento social parcial – e muito parcial – e a esperança de que o problema vá embora sozinho. Até agora, dois meses depois do início da crise, não há nenhum plano para enfrentar de fato a situação.
A maior parte do povo brasileiro, os trabalhadores e suas famílias não têm como se beneficiar desta solução única porque têm que trabalhar e são obrigados a trabalhar.
Vários governadores e prefeitos, que ensaiaram claramente um plano de suspensão do isolamento, sem qualquer resultado positivo, agora ameaçam com o chamado lock-down, uma versão ainda mais dura do isolamento social. Estas medidas desencontradas mostram que o poder público está completamente sem Norte. Enquanto isso, as mortes multiplicam-se.
Esta situação mostra a completa bancarrota da política seguida pela esquerda institucional de apoiar a política de uma parte da burguesia contra Bolsonaro, como se eles tivessem uma alternativa real ou algo que fosse além da pura demagogia política.
A chamada frente ampla está apoiada nesta situação em que os governos federal e estaduais jogam conscientemente com a vida da população porque não têm e não querem elaborar nenhum plano de contenção do vírus que vá além do isolamento parcial.
O conjunto da população brasileira está nas mãos de governos irresponsáveis, que não têm a menor intenção de realizar os gastos e o empenho necessário para conter a epidemia. Na realidade, sequer conseguem neste momento enterrar os mortos.
A causa deste fracasso é política e é de classe. A política da burguesia é organizar a mortandade, como fazem sempre em situações críticas. Organizar significa fazer com que a crise desça a pirâmide social e se acumule na sua base.
Para enfrentar esta situação, é necessária uma política e uma ação não apenas alternativa como aberta e radicalmente oposta à política dos governos. É preciso criar um polo de oposição que se coloque ao lado da população pobre.
É urgente convocar uma conferência ou plenária nacional que agrupe todas as organizações de luta do povo, a esquerda, os partidos políticos populares e elaborar um programa de ação e um plano de lutas para realizar este programa.
A malsinada frente ampla é o oposto dessa política. É a subordinação da esquerda aos que nada têm a oferecer a não ser mais do mesmo, mais de nada.
O 1º de Maio confirma esta avaliação. Foi um enorme fracasso justamente porque estava baseado nesta orientação falsa até a medula. Nem mesmo os mais conformistas dentre a esquerda ficaram convencidos da utilidade da unidade com Doria, Alcolumbre, Maia, Witzel e FHC. A CUT ficou presa em uma teia de aranha tecida pelos seus aliados sindicais e o resultado foi a divisão e a dispersão da esquerda.
É preciso mudar de política para evitar a catástrofe que se avoluma.