O Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (Crusp) foi construído em 1963 para receber os atletas do Jogos Pan-americanos. Hoje o conjunto de prédios abriga aproximadamente 1.200 alunos, vindo das mais diversas regiões do país e de outras nacionalidades. No Crusp, o pavimento térreo do prédio A, consta 12 moradias e está reservado para abrigar as estudantes mães. Tendo sua maternidade reconhecida e acolhidas pela instituição, essas estudantes têm direito usufruir de exclusividade na moradia.
Ocorre que dezenas das mães discentes não são atendidas pelas ínfimas doze vagas destinadas para as alunas mães. Não tendo suas maternidades reconhecidas, essas “mães ilegais” não gozam da exclusividade de moradia ou de auxílio na maternidade por parte da instituição, sofrendo imensamente enquanto tentam conciliar a vida discente com a maternidade.
“As mães que estão em outros blocos [fora do bloco das mães] não têm respaldo legal de morarem lá, não são respeitadas e nem reconhecidas como mães, não conseguem gozar do mesmo direito que as mães do bloco das mães gozam, que é o direito de ter paz, de não ter alunos batendo na porta da casa perguntando se tem vaga. A maioria delas são estrangeiras, são de outros estados. A USP não gosta de escândalos, não gosta de mostrar os pobres que tem, foi a última a aderir ao sistemas de cotas. Os problemas ultrapassam a logística estrutural do bloco das mães” desabafa Juliana.
A estrutura física do Crusp se encontra em verdadeira decadência, afora a superlotação há ocorrência das mais diversas patologias que vão desde pragas e fungos, ausência de saneamento básico, fornecimento de água potável e internet, principalmente as áreas de uso coletivo como cozinhas. Segundo dados da Frente Universitária de Combate à Covid-19 40% dos alunos não conseguem cozinhar nas dependências, 97% das moradias não tem conexão estável de internet, 43% dos moradias está infestada com pragas e fungos, 11,3% enfrentam problemas de saneamento básico e 9,22% de fornecimento de água, só 12,3% das moradias não apresentam problemas de infraestrutura.
Com a pandemia a USP fechou o Bandeijão Central, que fica dentro do Crusp e passou a distribuir marmitas no bandejão da Faculdade de Química, onde os estudantes que podem evitam de ir em razão da aglomeração. Segundo dados da Frente Universitária de Combate à Covid-9, 35,4% dos estudantes do Crusp dependem do Restaurante Universitário para se alimentar, outros 30,5% dependiam de doações e apenas 33,5% dos discentes conseguem suprir seus próprios alimentos.
O imenso abandono a que os estudantes residentes do Crusp estão submetidos é evidente em cada ponto do seu dia a dia, sendo comum relatos de distribuição de alimentos estragados, como no dia 01 de abril, vencidos desde 2019 pela empresa que fornece as marmitas para os discentes.
Com todo esse descaso não é de se estranhar que já existam aproximadamente dez casos de estudantes contaminados pelo novo coronavírus. Para se evitar o avanço da pandemia no alojamento estudantil, os alunos se mobilizaram dando o empenho de testarem os moradores e tiveram a iniciativa de forma a Frente Universitária de Combate à Covid-19, que além de reagir sobre a pandemia do covid-19 analisou a situação de vulnerabilidade sofrida pelas alunas mães, que estão publicados no sítio Portal CRUSP Transparência.