O empresário João Faria da Silva, do interior de São Paulo, é o principal beneficiário da ação de despejo do acampamento quilombo Campo Grande (MG), realizada em agosto pelo governador do estado de Minas Gerais, Romeu Zema (Partido Novo). Na ocasião, dezenas de famílias foram despejadas em meio à pandemia do coronavírus, tendo suas moradias destruídas e até mesmo uma escola demolida pela tropa de choque da Polícia Militar.
O despejo foi determinado pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais com o apoio do governador Zema. A ação policial contou com o efetivo de 150 policiais, durou cerca de três dias e cometeu todos os tipos de arbitrariedades e violação dos direitos das famílias sem-terra. Inclusive, a polícia recorreu ao recurso de queimar as terras para facilitar a expulsão dos moradores. Nenhum amparo às famílias foi fornecido pelo governo estadual.
A área pertencia à falida usina Ariadnópolis, da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (Capia), que encerrou as atividades em 1996. O dono da terra é o empresário João Faria, que tem uma dívida total calculada em R$ 1,8 bilhão. Quando a empresa Capia faliu, os funcionários ficaram sem receber seus direitos trabalhistas, e, por isso, acabaram por permanecer na terra.
A massa falida da empresa pediu reintegração de posse em 2011. O processo ganhou ímpeto a partir de 2016, quando a empresa Jodil Agropecuária e Participações Ltda demonstrou interesse no arrendamento de parte da área. Acontece que a Jodil é uma das empresas de João Faria da Silva.
O latifundiário não pagou os direitos trabalhistas de seus funcionários e pediu reintegração de posse, por meio de outra empresa de sua propriedade, da área do quilombo Campo Grande, no que foi atendido pelo judiciário.
A área do quilombo deve ser confiscada e distribuída às famílias sem-terra, que se destacavam na produção de gêneros alimentícios e viviam no local. É necessário destacar o papel do judiciário, que autorizou a reintegração de posse em função dos interesses de João Faria, um empresário fraudulento e sonegador.
O episódio comprova a ligação íntima entre os grandes proprietários de terra, o poder judiciário, o poder executivo estadual e a Polícia Militar. Sem titubear, o Estado lançou dezenas de famílias às ruas, destruiu suas moradias, tocou fogo na terra e demoliu suas escolas. Tudo para garantir os lucros de um empresário que deve R$ 1,8 bilhão de reais para 358 credores, dentre eles cooperativas de crédito, cooperativas de produtos de café e trabalhadores que lutam por receber seus direitos trabalhistas.