Após registrar queda de 9,7% do PIB (Produto Interno Bruto) no segundo trimestre de 2020, a maior registrada em toda sua história, o Brasil entrou em recessão. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a última ocorreu em 2015 e 2016, com a crise das matérias-primas, período, não por coincidência, o do golpe de Estado. Já a atual, tem relação com o consumo e a renda das famílias, que caíram a seus piores patamares históricos também, fazendo com que o país tivesse sua indústria regredida a 2009, um escancarado resultado da política dos golpistas e particularmente da extrema direita bolsonarista.
Isso fica claro também na questão do desemprego. Ainda de acordo com o IBGE, segundo a PNAD-COVID (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – especial coronavírus) a população ocupada – compreendida entre empregados, empregadores, trabalhadores por conta própria e servidores – era de 85,9 milhões no 1º trimestre, até maio, uma queda de 8,3% diante dos três meses anteriores, o que fez com que, pela primeira vez na história do País, menos da metade do total da população em idade de trabalhar estivesse ocupada! Sendo o pior resultado da série histórica, iniciada em 2012.
Diante do massivo desemprego e do rebaixamento salarial, permitido por medidas do governo Bolsonaro, como as MP 936 (do rebaixamento salarial) e 927 (da carteira verde e amarela, sem direito algum), os trabalhadores também se veem confrontados por um inflação oficial que não condiz com a realidade. O que fica claro no aumento dos preços dos itens da cesta básica.
A “prévia” da inflação oficial, medida pelo IPCA-15 (Índice de Produtos ao Consumidor Amplo), soma 2,28% em 12 meses, até agosto. Já o aumento dos preços, em 12 meses, chegou a 12,15% em São Paulo, 14,61% no Rio de Janeiro, 19,18% em Belo Horizonte, 20,97% em Goiânia e 21,44% em Recife, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Socioeconômicos). Que também levantou o dado de que o trabalhador que recebe 1 salário mínimo compromete, em média, 48,85% da sua receita líquida para comprar os alimentos básicos.
Ou seja, uma conta simples mostra que o trabalhador, que ganha um salário mínimo (R$1.045,00) está gastando, na prática, 68% da sua renda com alimentação! Muito superior aos 48,85%. O que mostra que no Brasil, a classe trabalhadora basicamente trabalha para poder comer, nada além disso. É uma situação análoga à escravidão.
Se separarmos os dados por região, a situação fica ainda pior, uma vez que em MG e PE o comprometimento da renda com alimentação ultrapassa os 70%!
Com recessão, o maior contingente de desempregos da sua história, aumento da inflação e o governo concedendo reajuste abaixo da própria inflação oficial, o país vive uma situação explosiva, que o governo procura a todo custo ocultar. No entanto, como não consegue lidar com a crise, o governo vai tropeçando e tentando repassá-la aos trabalhadores de formas distorcidas, como o caso da tentativa de aprovação da renda brasil, que mudaria a forma de financiamento do bolsa família, fazendo com que ele fosse financiado pelos próprios trabalhadores. Quem tem menos daria para quem menos ainda, para que os banqueiros e grandes empresários mantenham seus lucros.
Por isso, é necessário ter um programa para as questões elementares dos trabalhadores, como o desemprego e a perda do poder de compra do salário mínimo. Um programa que faça a frente a crise e proponha uma saída em que os patrões paguem a conta, não os trabalhadores. Para tanto, a questão central, que permite a unidade de todas as reivindicações, da redução da jornada de trabalho para 35h ao salário mínimo vital, é a luta pelo poder político, baseada na campanha pelo Fora Bolsonaro e pela anulação de todos os processos contra o ex-presidente Lula.