No dia 16 de maio de 1929 acontecia em Los Angeles, no Hollywood Roosevelt Hotel a primeira cerimônia da premiação da academia de cinema, conhecida como Oscar. Não se sabe ao certo a origem do nome que difundiu a premiação, segundo algumas anedotas se deve pela semelhança da estatueta com algum conhecido chamado Oscar de algum ator ou jornalista. Uma das histórias retrata que o nome surgiu pela atriz Bette Davis pela estatueta ser parecida com seu primeiro marido Harmon Oscar Nelson.
A cerimônia que hoje é transmitida para diversos países no mundo todo em tempo real, pela TV fechada, aberta e internet, com duração de horas e mobilização de diversos profissionais nos mais diversos ramos, sequer teve sua primeira cerimônia transmitida em rádio ou televisão no próprio país de origem. Apesar de ter sido um evento luxuoso como é até hoje, contando com a presença pomposa de atores e diretores, era muito mais simples em sua condução, com doze categorias e duração de aproximadamente quinze minutos.
O Oscar foi idealizado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, fundada em 1927 pela burguesia acadêmica da indússtria do cinema norte-americano, como tal naturalmente transferiu para a premiação suas aspirações. Isto pode notado fortemente nas cerimônias mais recentes do Oscar, que usa a premiação para promover os interesses da burguesia que a comanda, nos últimos anos fazendo uso especialmente da demagogia, seja com negros, mulheres, latinos, etc, ou seja, com parcelas da população que diariamente são esmagadas por políticas advindas da burguesia mas uma vez no ano é levada a esquecer isso quando uma mulher negra ganha o Oscar de melhor atriz ou um filme mexicano ganha um prêmio de melhor filme, desde que, é claro, as atuações ou filmes não desafiem muito fortemente esta burguesia, geralmente escolhem os que tem tom de conciliação, é o exemplo do vencedor da categoria melhor filme em 2019, o filme Green Book.
Na primeira cerimônia da academia em 1929, no entanto o método usado foi outro. O momento político não era dos mais agradáveis para a burguesia que estava prestes a enfrentar uma forte crise meses depois, logo qualquer iniciativa mais brusca era vista como ameaça. Isto fez com que os idealizadores da premiação demonstrassem desde já suas inclinações promovendo uma espécie de golpe contra Chaplin. havia sido originalmente indicado ao Oscar de Melhor Ator e de Melhor Diretor de um Filme de Comédia pelo seu filme O Circo, mas teve seu nome retirado das indicações e lhe foi dado um premio de consolação, pomposamente chamado de prêmio honorário, que viria a receber novamente em 1972.
Por outro lado também era sabido que Chaplin era avesso à Academia, o que é muito compreensível se analisada sua obra, já na época da primeira premiação era conhecido pelos seus filmes e pelo personagem não convencional do vagabundo nada bem visto pela burguesia, além de posições políticas firmes e que retratava de diversas maneiras os aspectos medonhos do capitalismo, motivo pelo qual anos depois viria a ser perseguido pelo governo dos Estados Unidos. A estatueta que recebeu foi usada por Chaplin como peso de porta. A premiação continuou sabotando a obra de Chaplin, que nunca ganhou um Oscar especificamente por seus filmes, O Ditador um dos filmes mais relevantes politicamente feitos por Chaplin concorreu ao Oscar mas não foi premiado, já Tempos Modernos, um dos filmes mais importantes da história do cinema sequer concorreu ao prêmio.
Desta forma, embora o Oscar seja a mais importante premiação do cinema no mundo, como qualquer outro instrumento da classe dominante, é usado pela burguesia para promover seus interesses, estando longe de ser algo que represente verdadeiramente o movimento político que existe em torno do cinema, pelo contrário a premiação seleciona cuidadosamente o que deve ter destaque ou não de acordo com suas pretensões. Representa no final das contas os interesses da bilionária indústria cinematográfica, e não da promoção da arte pelo cinema.