O novo aspirante a herói nacional da esquerda pequeno burguesa, Luiz Mandetta, não tem nada de progressista ou humano, como querem pintar alguns setores. Se só o fato de ser ministro de um governo fascista não é suficiente para afastar qualquer duvida sobre seu caráter político, olhar para o passado de Mandetta deveria colocar o ministro da saúde como inimigo de toda a esquerda nacional.
Mandetta veio de uma rica família do Mato Grosso do Sul. Seu pai é médico ortopedista e já foi vice-prefeito de Campo Grande. Após também se formar como médico ortopedista, trabalhou um período na Unimed como médico, até que em 2001 se tornou presidente da Unimed de Campo Grande.
Entrou na política por meio dos primos Nelson Trad Filho, Fábio Trad e Marquinhos Trad, todos filhos de Nelson Trad, ex-deputado. Luiz Mandetta iniciou sua carreira política como Secretário Municipal de Saúde de Nelson Trad, enquanto este era prefeito de Campo Grande, cargo pelo qual foi acusado de fraude em licitação, o que não foi julgado.
Opositor ferrenho do PT, Mandetta se tornou deputado federal em 2010. Durante o período em que foi deputado, até o fim de 2018, o agora ministro da saúde tentou de todas as maneiras impedir a criação do programa Mais Médicos do PT. Tanto que foi um ferrenho defensor da expulsão dos médicos cubanos no programa e articulador para a volta dos cubanos e pelo fim do Mais Médicos após a vitória fraudulenta de Bolsonaro.
Como deputado também levou uma política em favor do latifundiários do Brasil, chegando a dizer que a demarcação de terras indígenas era uma perseguição ao agronegócio e que Dilma queria o mal do Brasil por isso. Também fez uma ampla defesa das indústrias agropecuárias, quando em 2017 descobriu-se que algumas empresas utilizavam formol em carne estragada para depois a vender, dizendo que a denuncia causava um “mal fiscal” aos donos da indústria.
Ainda votou a favor da PEC dos gastos públicos, conhecida como a PEC do fim do mundo, que hoje limita os gastos na área da saúde e impedem um combate eficaz ao coronavírus. Além da PEC, Mandetta votou a favor da reforma trabalhista que retirou inúmeros direitos dos trabalhadores e também foi a favor do golpe de estado contra a presidenta Dilma Roussef em 2016.
Mandetta sempre foi contrário ao aborto. Alguns blogues e grupos de extrema direita comemoraram o fato dele se tornar ministro de saúde, já que estaria colocado em defesa da “família” no Brasil.
Além disso, tentou dizimar a população indígena no começo do mandato de Bolsonaro, extinguindo a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), mas voltando atrás por conta da pressão e da mobilização das populações indígenas do país. Primeiro, como representante dos convênios, destruir a saúde pública é seu objetivo e, enquanto representante dos latifundiários, impedir que essas populações tenham acesso à saúde é essencial para ajudar os ruralistas a conseguir as terras hoje demarcadas.
Outra questão que hoje também é esquecida, é o fato de Mandetta já ter dito em entrevista no Roda Viva que o congresso deveria discutir a privatização do SUS, assim como a cobrança de atendimentos, além de declarar ser contrário à ideia de que empresas alimentícias deveriam escrever nos rótulos tudo o que há no alimento.
O ministro da saúde golpista não tem nada de herói ou nem mesmo de um grande ministro. Tem apenas pequenas divergências em relação a quarentena com Bolsonaro, mas no fundamental apóia todas as políticas de destruição da saúde pública que resultou na situação que estamos vivendo.