O blocão formado na Câmara dos Deputados em apoio ao candidato de Rodrigo Maia (DEM) mais uma vez trouxe à tona a política do “mal menor” defendida pela esquerda pequeno-burguesa. O bloco tem 11 partidos, do PSL até o PT, e tem como pretexto combater o candidato de Bolsonaro, Arthur Lira (PP).
Ele representa o aprofundamento da política que foi levada pela esquerda nas eleições municipais, apoiando nomes como o de Eduardo Paes (DEM), no segundo turno do Rio de Janeiro, ou mesmo antes, coligando-se com partidos de direita em centenas de cidades.
O desenvolvimento dessa política na Câmara indica que a esquerda que defende a frente ampla está impondo sua politica aos demais setores da esquerda parlamentar e irá contribuir para a possibilidade de vitória de um candidato direitista nas eleições de 2022. É exatamente esse o objetivo da direita tradicional ao levar adiante a política de frente ampla.
Um mal que não tem nada de menor
O principal pretexto para se juntar ao bloco direitista é o de que seria preciso se unificar contra Bolsonaro, já que este seria pior que a direita golpista tradicional. Será mesmo?
Não. A ideia de que PSDB, DEM e MDB seriam partidos melhores que o bolsonarismo não se sustenta nem agora, nem no passado, nem no futuro. Nesse momento, esse bloco agrupa o que há de mais “letal” para o povo brasileiro. Juntos, esses partidos formam o principal bloco que dá sustentação ao regime político. Há décadas, são esses partidos que dominam a política nacional, o DEM, antiga Arena, o MDB e o PSDB.
Foram eles os principais articuladores do golpe de Estado de 2016, que resultou no Bolsonaro de hoje. Vem desse grupo os ataques brutais contra os trabalhadores e todo o povo no últimos anos. Sem eles, a famigerada reforma trabalhista não teria sido aprovada, a mesma coisa para a “reforma” da Previdência. O teto de gastos é obra desse grupo. A medida que permitiu que os patrões rebaixassem os salários dos trabalhadores durante todo o ano é deles também. São deles ainda todas as medidas econômicas que resultaram na queda das condições de vida da população. E agora são eles que exigem que Bolsonaro seja mais efetivo em suas promessas de privatizar as poucas riquezas nacionais que sobraram, já que FHC, líder desse bloco, já privatizou quase tudo nos seus 8 anos de mandato.
Sem o bloco do “mal menor” absolutamente nenhum desses ataques seriam aprovados.
Os que, agora, se apresentam como “oposição” a Bolsonaro, são justamente os responsáveis para que não siga adiante nenhum dos mais de 60 pedidos de abertura de processo de impeachment contra o presidente ilegítimo.
Todas as vezes que a política do “mal menor” foi levada adiante, o resultado foi o pior possível. Um bom – ou seria um mau – exemplo é o governo de São Paulo. Em 1998, diante de um segundo turno entre Mário Covas (PSDB) e Paulo Maluf (PPB), a esquerda apoio o PSDB, o que deu a reeleição aos tucanos e representou a dominação do partido no governo do estado até hoje. Será que realmente isso é o “mal menor”? Claro que não.
Essa mesma tática vem sendo usada, ano após ano, contra o povo, sempre em benefício da direita.
Uma manobra sem nenhum ganho para a esquerda
Do ponto de vista da manobra parlamentar, a decisão do PT e do PCdoB de apoiar o candidato de Maia é um erro grave. O único resultado desse apoio e da provável vitória do grupo de Maia será o fortalecimento dessa direita.
A esquerda entrega sua força política de presente para os inimigos políticos do povo. O maior partido da Câmara, o PT, abre mão de seus votos e de uma posição independente.
Além da desmoralização política, essa manobra fortalece a política de frente ampla em torno do apoio de um candidato da direita para 2022. É exatamente o discurso de que todos devem se juntar com o “demônio” Bolsonaro que será usado para fazer com que a esquerda fique novamente a reboque da direita tradicional para apoiar um nome indicado pela direita nas eleições presidenciais.
Como fica claro, os que se apresentam e são apresentados como o “mal menor” lançam mão dessa farsa justamente por que são o mal maior e procuram manipular a situação de acordo com seus interesses. A esquerda, ao invés de buscar uma independência política, dá aval à manobra e se coloca como uma nulidade política.