A Fundação Renova, criada com o intuito de administrar a indenização das populações atingidas pelo desastre da Vale, em Mariana-MG começou a notificar aos beneficiários que irá cortar o Auxílio Financeiro Emergencial (AFE) das pessoas atingidas pela tragédia, a partir do mês de agosto.
É preciso denunciar que, na verdade, a Fundação trabalha levando em consideração os interesses do grupo empresarial Vale, que durante o processo sempre mostrou resistência em auxiliar as vítimas da irresponsabilidade dos empresários donos. A empresa decidiu, por ela mesma, sem nenhum tipo de consulta pública ou debate com a população trabalhadora atingida, não fornecer mais as indenizações alegando que a população esteja apta a se sustentar através das pesca, em meio a uma crise pandêmica.
Até o mês de abril de 2020, mais de R$ 5,7 bilhões foram recebidos pela Fundação no intuito de indenizar e auxiliar financeiramente cerca de 321 mil vítimas, atingidas pela tragédia de Mariana-MG de alguma maneira, seja perdendo parentes, moradia, saúde e renda.
A atitude da Fundação, por si só, demonstra que a decisão veio de quem se interessa pelo abandono da situação dessas famílias. O que é uma grande canalhice. Demonstra também o mais importante, que não são as vítimas da tragédia quem estão no fronte das decisões sobre o que fazer, e para que necessidades devem ser destinadas os bilhões recebidos.
Apesar de tudo, só no terceiro trimestre do ano de 2019, a Vale teve um lucro líquido de 1,654 bilhões de dólares. Isso demonstra que, apesar dos prejuízos, os empresários têm sim condições de arcar com as consequências irreversíveis da população atingida, intensificadas pela então crise pandêmica por quê passa o país. Não cabe à Fundação, à empresa ou a qualquer instituição decidir as necessidades das vítimas da irresponsabilidade da Vale, e sim à própria população, que demonstra sua insatisfação com a medida de cancelamento das indenizações.
É inadmissível admitir que a Fundação Renova ou a Vale, que conta com acionistas como o Bradesco, um dos maiores financiadores do governo Bolsonaro, que só pensaram em lucro quando colocaram a população diante de – riscos irremediáveis e imensuráveis, assim como foi a tragédia -, decidirem que as vítimas agora têm plenas condições de sobreviver da pesca durante uma pandemia. Até hoje existem trabalhos de busca a vítimas da catástrofe, pessoas que não reconstruíram suas vidas, propriedades que não foram reavidas e etc. Aliás, devemos parar de pensar em ‘tragédia’ e determinar, definitivamente, o fato como genocídio.
Os capitalistas têm a mania secular de tentar nos convencer de que seus investimentos e lucros privados não têm nenhum compromisso com a sociedade ao redor, afinal de contas, segundo eles, esses compromissos partem de interesses particulares. No entanto, a história, assim como o massacre de Mariana, nos mostra que esses capitalistas, donos de grandes empreendimentos privados, sempre usaram de artimanhas e uma série de confusões causadas para fugir de sua responsabilidade, e para esconder a exploração dos trabalhadores, que é de onde vem suas riquezas. Agora não é diferente.
A população atingida é quem deve decidir as políticas de indenização. E a Vale, como empresa de interesses privados, precisa estar submetida às necessidades dessa população.