Em artigo publicado no portal 247, o jornalista Luis Costa Pinto, advoga abertamente uma aproximação com o governador carioca Wilson Witzel. Costa Pinto escreveu: “Wilson Witzel não merece a defesa dos homens de bem do país, e sequer saberá ser agradecido quando ela vier, mas em nome da necessária Frente Ampla que se há de formar para combater com o pé na porta e a força nas ruas a evidente crescente autoritária de Jair Bolsonaro, estamos condenados a fazê-lo” (Portal 247, 26/05)”. Estas foram as palavra do jornalista, membro do “Jornalistas pela Democracia”.
Pelo que se pode perceber, os defensores da frente “antifascista” ampla não se dão por satisfeitos em ter neste ajuntamento, notórios direitistas, oportunistas e inimigos declarados dos trabalhadores. Agora, surge até mesmo quem dá as boas vindas a um fascista declarado, criminoso, o homem das operações de terror e assassinatos nas favelas e comunidades pobres do Rio de Janeiro. Perguntamos: Onde a “frente ampla” quer chegar? Quem mais falta ser convidado para integrar a coalização antibolsonarista para 2022? Pelo andar da carruagem só mesmo o próprio Bolsonaro deverá ficar de fora do amplo espectro “oposicionista”.
Em outro trecho do artigo, o jornalista Costa Pinto escreve: “É urgente aproveitar a oportunidade que o erro estratégico do bolsonarismo cometeu ao lançar a direita de Witzel e de Dória no colo do centro e da esquerda, que são elos democráticos da corrente política e jogam com a Constituição nas mãos, para vencer” (idem, 26/05). Queremos deixar consignado aqui, senhor jornalista, que os dois governadores são os mais enfáticos inimigos sociais e políticos dos trabalhadores e das massas populares; homens que utilizam os mais hediondos métodos de ataques contra as populações dos seus respectivos estados; governantes que fazem uso abusivo, em larga escala, da repressão e da brutalidade sistemática das suas PM’s assassinas para cotidianamente aterrorizar as comunidades pobres dos estados que governam. Voltamos a perguntar: São esse senhores os novos aliados que irão compor a “frente ampla” na luta contra o bolsonarismo? Fascistas estaduais no enfrentamento ao fascismo federal, é isso?
A magnitude da crise social, política e econômica na qual o país está imerso, agravada em todas as suas vertentes pela disseminação vertiginosa do coronavírus, onde o Brasil já foi declarado como o novo epicentro da pandemia, tem dado lugar a uma intensa disputa no campo inter-burguês, com as diversas frações entrando em luta fratricida e aberta. As fraturas no interior da burguesia revelam o grau acentuado de desgregação do regime, expondo todas as contradições que emergiram do golpe de Estado contra o governo eleito em 2014.
O governo Bolsonaro e os governadores estaduais gestados a partir do resultado das fraudulentas eleições de 2018 expressam, em toda a sua amplitude, esse conjunto de contradições que o país vê eclodir agora, mas que já estava presente na etapa anterior, ganhando impulso neste momento por força da crise epidêmica nacional e suas dilacerantes consequências.
A luta contra o fascismo bolsonarista e suas vertentes estaduais exige a mais ampla delimitação política com esses setores. A crise econômica, em estreita conexão com a crise epidêmica que castiga o país, fez emergir diferenças que se manifestam de forma episódica e circunstancial entre o governo federal e alguns governadores, até então aliados de primeira hora do Palácio do Planalto e sua política de ataque aos trabalhadores e à população pobre. No entanto, naquilo que é o essencial, não há, por parte dos governadores “opositores”, qualquer divergência mais relevante com o bolsonarismo, com a política econômica do ministro entreguista Paulo Guedes e seus “Chicago boys“.
Neste sentido, a “frente ampla” vem se desenvolvendo como um instrumento de enganação, feita sob medida para ludibriar e confundir os trabalhadores. A esquerda não pode avalizar este embuste, esta farsa. É necessário a ruptura com essa estratégia, substituindo a conciliação de classes por uma verdadeira frente classista, que agrupe e faça evoluir a consciência das massas na direção de uma candidatura que expresse os interesses e as necessidades mais sentidas das massas populares.