Uma homenagem ao cineasta brasileiro Glauber Rocha (Vitória da Conquista, 14 de março de 1939 — Rio de Janeiro, 22 de agosto de 1981), considerado pai do chamado ‘cine novo’. O documentário “Glauber, claro” de César Augusto Meneghetti, dedicado aos anos que passou na Itália nos anos 70, será única produção brasileira na 15ª edição do Festival de Cinema de Roma, durante a qual serão exibidos 24 filmes, incluindo quatro dedicados à América Latina, começou esta quinta-feira marcada por medidas de segurança devido à pandemia do coronavírus.
Glauber de Andrade Rocha foi um cineasta, ator e escritor brasileiro, viveu em constante litígio com a tesoura dos profissionais da Censura. Mandado ao exílio pelos militares, traiu a esquerda, e apoiou o general Geisel, posteriormente, traiu os militares e ninguém mais o queria. Morreu jovem, com pouco mais de 40 anos, na condição de pária. Porém, talentoso que era, conseguiu seu lugar na eternidade com o filme que melhor retrata a cultura folclórica brasileira, de 1964, “Deus e o Diabo na Terra do Sol” foi um dos filmes mais representativos do Cinema Novo.
Semelhante ao livro-ensaio-tratado “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, “Deus e o Diabo na Terra do Sol” mostrou um Brasil desconhecido ou ignorado pela maioria da população, embora uma produção muito simples, é possível estabelecer relações entre detalhes dos casebres em que viviam e a vida em êxtase religioso que levavam. O Cinema Novo surgiu como uma resposta ao cinema tradicional que fazia sucesso nas bilheterias brasileiras no final da década de 1950, um cinema que basicamente se resumia a musicais, comédias e histórias épicas no estilo hollywoodiano, muitas vezes realizados com recursos de produtoras e distribuidoras estrangeiras.
O diretor, que também foi o principal roteirista, afirmou que: “Eu parti do texto poético. A origem de Deus e o Diabo é uma língua metafórica, a literatura de cordel. No Nordeste, os cegos, nos circos, nas feiras, nos teatros populares, começam uma história cantando: eu vou lhes contar uma história, que é de verdade e de imaginação, ou então, que é imaginação verdadeira. Toda minha formação foi feita nesse clima. A ideia do filme me veio espontaneamente”. Glauber e suas obras já não eram vistos com bons olhos pela censura, antes mesmo da militarização do órgão em 1968, como pôde se notar no episódio que envolveu a interdição do seu terceiro longa-metragem “Terra em Transe”, um ano antes do decreto AI-5. O documentário mostra semelhanças do momento político do país daquela época e de agora, ou seja, o autoritarismo, a violência de Estado e o racismo.