Uma das grandes e mais antigas falácias do capitalismo é a pressuposição da competitividade como fator de desenvolvimento econômico e social. Talvez não seja preciso lembrar que menos de 30 bancos devastam a economia mundial através dos oligopólios criados para a financeirização, a especulação financeira que os sustentam.
No Brasil, por exemplo, enquanto 10 empresas chegam a dominar até 70% do consumo das famílias, outras centenas e centenas vivem na ilusão do crescimento pela competição. No setor tecnológico não é diferente: grandes empresas, sobretudo a “Gafan” (Google, Apple, Facebook, Amazon e Netflix), encabeçam o domínio do setor da comunicação digital – o Facebook carrega 70% do mercado de redes sociais, enquanto a Google detém mais de 90% do mercado de publicidade em buscas, segundo a agência CMA, do Reino Unido.
Na tentativa de combater o monopólio dessas empresas que agora estão lucrando ainda mais com a crise sanitária causada pela pandemia, um grupo de 13 cineastas da Europa protocolaram um conjunto de pedidos à União Europeia, entre eles, regulamentos mais restritos e sanções necessárias. Uma outra justificativa, além desse monopólio formado entre elas, também se deve às altas lucratividades em detrimento das baixas contribuições que poderiam auxiliar no combate ao Covid-19 e às demais necessidades de saúde, educação e serviços essenciais para as democracias europeias – os quais estão grandes nomes como o Pedro Almodóvar e Claude Lelouch.
Vale lembrar que a Vice-presidente da Comissão Europeia Margrethe Vestager já havia se pronunciado em relação ao assunto no início do mês. Segundo ela, a internet precisa ser regulada para “impedir que situações de monopólio, como vemos com a Amazon, Google e Facebook, se repitam em outros mercados” e que para isso, precisa-se de instrumentos com os quais se evite que os mercados se desequilibrem e fiquem dependentes de uma única empresa.
Acrescentaríamos, na esperança: impedir também que, como nas palavras dos cineastas, essas indústrias continuem reduzindo os seres humanos “a meros consumidores”. O processo de alienação no capitalismo passa pela objetificação dos humanos, pelo sequestro do desejo e pela formação de uma subjetividade feita para o consumo.
Tentativas como essas, que já ocorreram outras vezes, deveriam servir de exemplo para o Brasil, mas há um outro monopólio que a impede: o da hipocrisia neoliberal.





