O governador Flávio Dino (PCdoB), que tem sido um dos principais propagandistas, a nível nacional, de uma aliança que reúna as organizações populares junto com a burguesia, publicou, no dia 28 de janeiro, uma mensagem reafirmando seu interesse em constituir a chamada “frente ampla”. Por meio de seu perfil no Twitter, Dino afirmou:
Mais importante agora não é falar de partes e sim do todo. Ou seja, a questão central é a defesa do Brasil, dos direitos sociais e de um projeto nacional de desenvolvimento, elaborado e sustentado pela frente mais ampla que for possível.
A declaração do governador, diferentemente do que é feito por outros ideólogos da esquerda nacional, que procuram ocultar o caráter direitista da chamada “frente ampla”, deixa claro com quem Flávio Dino estaria disposto a se aliar. Uma frente “mais ampla possível” contra o governo Bolsonaro incorporaria, portanto, todos os que, por alguma conveniência, estariam interessados em se contrapor ao governo.
É um erro — tanto do ponto de vista teórico, quanto do ponto de vista histórico —, no entanto, avaliar que uma frente empreendida com quaisquer setores aparentemente contra a extrema-direita seja um avanço na luta política dos trabalhadores. Afinal, diante do contínuo desgaste que Bolsonaro vem sofrendo por meio de sua impopularidade, pelo ódio da população e pela sua dificuldade em levar adiante todas as demandas de seus patrões, é mais do que esperado que haja setores da burguesia que procurem se mostrar como oposição ao bolsonarismo.
A “frente mais ampla possível” reuniria, conforme os próprios acenos que Dino tem dado, políticos burgueses como Fernando Henrique Cardoso e empresários como Luciano Huck. Tanto um quanto o outro são parte de uma classe antagônica à classe operária — são representantes da burguesia e, portanto, serão capazes de fazer qualquer coisa para garantir que os interesses dos capitalistas prevaleçam.
Conforme a própria história mostra — sobretudo nos exemplos da frente popular francesa e na frente popular espanhola —, os setores que se convidam para integrar uma frente com a esquerda são justamente os setores da burguesia que já estão completamente desmoralizados perante a população. São os setores que foram responsáveis, no passado, por aplicar a política neoliberal e que não contribuem em nada para uma mobilização efetiva. Nesse sentido, formar uma frente com os políticos tradicionais da burguesia é o mesmo que jogar um balde de água gelada na fortíssima tendência dos trabalhadores a lutarem contra o governo Bolsonaro.
Em segundo lugar, os mesmos setores que estão sendo cogitados por Flávio Dino para formar uma frente ampla são, no frigir dos ovos, bolsonaristas — apoiaram Bolsonaro nas eleições e estão dispostos a apoiar a extrema-direita novamente caso seja necessário. Seu papel não é o de contribuir para a mobilização dos trabalhadores — pois os mesmos que se mobilizam para derrubar o governo Bolsonaro, tenderão a se mobilizar para se livrar de uma vez de políticos como Fernando Henrique Cardoso. O papel desses setores é o de justamente impedir que a esquerda canalize a revolta da população e organize um movimento que ponha o regime político abaixo.
A política de frente ampla, diante dos fatos citados acima, deve ser integralmente rejeitada pela esquerda e pelos trabalhadores. É preciso constituir frentes únicas dos trabalhadores que visem não a participação nas eleições, mas sim travar a luta contra a extrema-direita nas ruas.