“A pandemia do coronavírus provavelmente conduzirá à pior recessão na Alemanha na história do pós-guerra”. A frase é do presidente da BA, a Agência Federal de Emprego da Alemanha, Detlef Scheele. O anúncio foi feito em meio a uma corrida para o acesso ao programa estatal de redução de jornada de trabalho, o Kurzarbeit, recentemente ampliado para auxiliar empresas nacionais em dificuldades. Este programa é considerado um sucesso desde sua aplicação na crise de 2009. Tanto a declaração de Scheele quanto o crescimento da demanda pelo Kurzarbeit, sinalizam a entrada da Alemanha em um período de grande resseção econômica.
O Ministério do Trabalho alemão informou na última quinta-feira (30/04), que o desemprego aumentou em 13,2% em abril, em relação ao mês anterior, a maior alta de um mês desde 1991 e a primeira vez no pós-guerra que a taxa de desemprego cresce durante o mês de abril, que marca o início da primavera no Hemisfério Norte, período do qual há um esperado aquecimento do mercado de trabalho.
A BA informou um aumento de 308 mil novos desempregados, levando o país para um total de 2 milhões e 644 mil pessoas sem trabalho, o que representa um aumento de 0,8% no mês, totalizando 5,8% em dados corrigidos das variações sazonais. Os setores mais afetados foram o de turismo (hotéis, bares, restaurantes) e o setor automobilístico. Segundo o Ministério do Trabalho, o número de desempregados aumentou no último ano em 415 mil trabalhadores.
Para o governo alemão, a queda do PIB deve chegar a 6,3% este ano, a maior desde que os cálculos começaram, em 1970. Outro indicador da gravidade da situação alemã são os números da produção industrial, que já vinha em queda desde de 2019 em relação ao ano anterior, com acentuação em dezembro, 7,2%, seguido de 3,0% em janeiro/20 e 2,1% fevereiro/20 (vide tabela).
Alemanha | |
Índice de Produção Industrial | |
mês/ano | IPI |
Fevereiro 2020 | -2,1% |
Janeiro 2020 | -3,0% |
Dezembro 2019 | -7,2% |
Novembro 2019 | -3,8% |
Outubro 2019 | -5,8% |
Setembro 2019 | -5,6% |
Agosto 2019 | -5,0% |
Julho 2019 | -5,2% |
Junho 2019 | -6,0% |
Maio 2019 | -5,1% |
Abril 2019 | -4,3% |
Março 2019 | -2,7% |
Obs.: Índices relativos ao ano anterior |
A crise alemã é sintomática e mais um indício da falência do capitalismo mundial. A Alemanha é uma das mais pujantes economias entre os países imperialistas, e a crise que se avizinha pode ter um efeito dominó imediato sobre toda a zona do Euro. O povo alemão tem claro na memória os efeitos da resseção profunda dos anos 30, provocados pela crise que se seguiu à quebra da bolsa de Nova York e acentuada pelo tratado de Versalhes, imposto com derrota na primeira guerra mundial. Hoje a Alemanha é um pais diferente, goza algumas décadas de prosperidade econômica e estabilidade política. Quais os efeitos de uma nova crise sobre a Alemanha? Só o tempo dirá.