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E a luta pelo Fora Bolsonaro?

Derrubada dos monumentos, um movimento confusionista

Discussão sobre a derrubada de estátuas verificada nos últimos dias revela uma tentativa de setores mais atrasados de tentar despolitizar a luta contra a direita

Os protestos nos Estados Unidos engatilhados pelo assassinato de George Floyd trouxeram à tona uma radicalização que não se via há algum tempo no coração do imperialismo. Manifestantes saíram às ruas massivamente, mesmo com a pandemia em pleno desenvolvimento, enfrentaram a polícia e chegaram a incendiar instituições públicas, como a delegacia de Minneapolis. Esses protestos acabaram servindo de inspiração para os povos de vários países, que se mobilizaram de maneira decidida contra os governos de direita. Em um dos protestos, que aconteceu em Bristol, na Inglaterra, manifestantes chegaram a arrancar a estátua do traficante de escravos Edward Colston e atirar-lhe em um rio. Desde então, abriu-se um intenso debate sobre a legitimidade de se depredar monumentos públicos.

Na imprensa burguesa, iremos encontrar posições a favor e posições contrárias ao depredamento. Mesmo as que são contrárias, no entanto, criticam cautelosamente os manifestantes e chegam a questionar se, de fato, tais monumentos devem ser mantidos. A esquerda pequeno-burguesa, no entanto, decidiu entrar de cabeça em uma campanha para que várias estátuas, no Brasil e no mundo, fossem derrubadas. Dentre os monumentos brasileiros, estariam o Monumento das Bandeiras, a estátua do bandeirante Borba Gato e até mesmo uma obra feita em homenagem a Pedro Álvares Cabral.

O problema de derrubar ou não monumentos traz, em si, um aspecto ideológico. No entanto, o objetivo deste artigo não é analisar esse aspecto, mas sim o problema político imediato em que a derrubada de estátuas está envolvida. Nesse momento, em que os trabalhadores de todo o mundo começam a se levantar contra a ofensiva da burguesia — uma ofensiva brutal, motivada pela crise capitalista —, todos os esforços da esquerda devem estar direcionados para uma única política: mobilizar o povo contra a direita. No caso do Brasil, isso se vê claramente. O País já tem 40 mil mortos — oficialmente — pelo novo coronavírus e está sendo arrasado em favor dos capitalistas. A maior preocupação dos trabalhadores, por uma questão inclusive de sobrevivência, deve ser a de derrubar imediatamente o governo Bolsonaro.

Nesse sentido, a discussão sobre a derrubada de monumentos aparece hoje como uma política confusionista e diversionista. Diante de uma urgência política, que é a derrubada do governo, abrir uma discussão desse tipo, que não está relacionada diretamente com a resolução dos problemas que os trabalhadores enfrentam neste exato momento, inserir uma polêmica com altíssimo grau de abstração só servirá para dispersar o movimento. Dito de outra maneira: o povo está saindo às ruas para pôr abaixo o regime que está lhe matando de fome; se de repente a esquerda começar a convocar os protestos como protestos contra um passado de 300 anos atrás, não conseguirá outro resultado que não a desmobilização.

Um dos setores da esquerda pequeno-burguesa que mais têm levantado a discussão sobre a derrubada de monumentos são aqueles ligados ao movimento negro. É preciso, portanto, dizer em alto e bom som: por pior, por mais cruel e desumano que tenha sido a escravidão, não há urgência maior para o negro do que derrubar o governo Bolsonaro ou dissolver a Polícia Militar. Se a extrema-direita conseguir se impor e sair vitoriosa da crise política que está aberta neste momento, haverá um massacre que será incomparavelmente mais doloroso do que a convivência com estátuas que remetem a um passado escravagista.

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