A briga de foice no interior da direita levou um dos principais porta-vozes da burguesia, o jornal Folha de S.Paulo, a noticiar uma crise envolvendo a tropa e o governador do Estado, João Doria. Ainda na linha “direita civilizada”, a violência da PM estaria preocupando Doria, mais até do que a explosão de contágios do coronavírus no Estado, o que teria levado o tucano a anunciar no último 22 de junho um novo programa de trinamento aos PMs. A atitude de Doria, contudo, teria aumentado a animosidade com os agentes da repressão. Claro que da forma como foi apresentada pela Folha é uma propaganda barata destinada a promover o centro político. Porém, algumas informações relevantes sobre a temperatura política acabam transparecendo com a matéria. A principal é justamente a luta entre a direita centrista e a extrema-direita.
Doria não é o único com dificuldades para controlar a tropa. Camilo Santana, governador petista no Ceará, e Ibaneis Rocha (MDB-DF) relataram problemas similares. A Folha cita também um alinhamento dos PMs com o bolsonarismo, demonstrando uma divisão muito mais profunda na direita do que a burguesia gostaria de deixar transparecer, e que naturalmente, só vem a tona pela dificuldade encontrada pelo centro em colocar a extrema-direita na linha.
É importante destacar que essa categoria é uma das principais bases de apoio do presidente Jair Bolsonaro. Tendo sustentado sua carreira política como uma espécie de sindicalista militar, Bolsonaro trata esse setor com especial atenção, como ficou demonstrado no impasse em relação à greve ocorrida no Ceará, onde o governo federal tratou de manobrar com os PMs revoltosos, de modo a não atendê-los e ao mesmo tempo não entrar em choque com o movimento paredista.
A crise na direita não é produto do acaso mas da crescente reação popular. Atos pelo “Fora Bolsonaro” ocorreram nas principais cidades brasileiras no último fim de semana de junho, que foi o primeiro mês com protestos contra o governo em todos os finais de semana desde a posse do presidente ilegítimo. A série de manifestações, iniciada em meados de maio, apresenta uma escala crescente de radicalização, tendo obrigado a burguesia a recorrer a elementos mais reacionários na esquerda para tentar quebrar o ânimo da população, com um sucesso porém muito relativo como pode ser visto pelo desenvolvimento da situação.
À medida que os setores mais dispostos da esquerda ganham as ruas, a crise na direita aumenta. Por um lado, a direita centrista busca resguardar o regime político de maiores turbulências, dado o já enorme potencial explosivo apresentado pela política da direita. Por outro, os setores mais desesperados, sobretudo na pequena-burguesia, tendem a querer uma radicalização maior à direita. Nenhum tem interesse algum que possa se confundir com o interesse popular, por isso, a esquerda precisa continuar atuando no sentido de ampliar a mobilização popular, de maneira independente.