Por Victor Assis
Na última sexta-feira (1º), mais de cem pessoas estiveram presentes no ato de primeiro de maio organizado pelo Partido da Causa Operária (PCO) na cidade de São Paulo. A atividade, que aconteceu em local fechado e foi restrita a convidados, reuniu delegações de todas as regiões do país e até mesmo uma representante do PCO na Europa.
O grande sucesso da atividade, no entanto, não está somente em seus números, mas sim, sobretudo, por ela ter acontecido em circunstâncias muito específicas: no momento em que a epidemia de coronavírus se encontra em uma crescente no Brasil. Os últimos dados oficiais relatam a morte de nada menos que 6.633 pessoas por causa da doença, o que está levando o país para as primeiras posições do sinistro ranking de vítimas fatais da pandemia.
A situação é extremamente grave — talvez, mais do que em qualquer outro momento da história da classe operária brasileira. O alto nível de contágio do coronavírus encontrou, na destruição dos sistemas de saúde em todo o mundo, a condição ideal para causar um grande estrago. Mais do que nunca, os trabalhadores se vêem confrontados com a necessidade histórica de assumir o protagonismo de seu próprio destino.
O chamado é necessário, urgente, desesperado. Pessoas já são enviadas para morrer em casa, outras são largadas à própria sorte nas ruas. E, como se não bastassem os pulmões, sucumbindo à tosse incessante e às paradas respiratórias, a barriga, cientificamente intransigente, inflexível, já começa a roncar. Mas, diante desse quadro, onde foi parar a esquerda? Que se fez dela, que tão prontamente defendia o povo em seus discursos inflamados no parlamento?
A esquerda foi parar embaixo da cama. Antes que o vírus colecionasse seu primeiro milhar de vítimas, as direções da esquerda pequeno-burguesa já haviam trancado seus sindicatos, dispensado seus funcionários, retirado seus militantes das ruas e, finalmente, decretado a quarentena da luta de classes. A luta de classes, contudo, que não conhece qualquer decreto, se intensificou ainda mais — e, na confusão em que a esquerda se meteu, acabou por dissolver todos os que estavam perdidos em uma massa amorfa e profundamente direitista, a qual estão dando o nome de unidade nacional.
Os últimos dois meses têm sido atípicos. Fomos obrigados a assistir dezenas — ou centenas, ou milhares, já perdi as contas — de companheiros que, outrora críticos aos parasitas que hoje respondem pelo nome de centrão, passaram a defender abertamente vigaristas como Luiz Henrique Mandetta. Até mesmo o mais descrente na política de tipo reformista da esquerda nacional recebeu com algum grau de surpresa a notícia de que a Central Única dos Trabalhadores — a poderosa CUT — iria participar de uma operação que envolvia figuras como FHC, além de Rodrigo Maia, João Doria, Wilson Witzel e outros fascistas.
Não, não é loucura. É pura histeria. É a reação da pequena burguesia diante da crise — crise essa que ainda deverá se acentuar bastante. Movidos pelo desespero e pela mais completa falta de princípios — dito de outro modo, pelo distanciamento da ciência social, o marxismo —, tais companheiros perderam completamente a cabeça. E sem a cabeça, já não conseguem mais usar a razão. Rebatem argumentos, teoria, a política e a história com chavões, gritaria, chiliques e apelos ao absurdo.
Com o primeiro de maio classista organizado pelo PCO, no entanto, eis que se abre uma nova oportunidade para que os companheiros encontrem o caminho da luta de classes, o caminho da luta contra a direita. Com o ato, agora está mais do que provado. É possível organizar os trabalhadores, mesmo com a pandemia. É possível e é necessário. Ou melhor, é necessário, por isso possível.
O ato marcou mais um ponto para a luta dos trabalhadores, um ponto a menos para a histeria. A mobilização em plena pandemia é agora um fato, e contra fato não há argumentos. Se bem que, dado o nível de histeria em que se encontram alguns setores da pequena burguesia, a cegueira perante aos fatos hão de permanecer…