Amplamente denunciada como fraude pela associação de professores do Paraná, a APP-Sindicato, a consulta pública sobre a militarização das escolas públicas do estado foi concluída no último dia 30, e sem nenhuma surpresa, a votação aponta uma suposta adesão popular à medida defendida pelo governador bolsonarista Ratinho Júnior (PSD).
Ao todo, 215 escolas sofrerão o processo de militarização no estado, que atingirá estudantes a partir do 6º período do ensino fundamental até o fim do ensino médio. Com isso, um número superior a 127 mil estudantes poderão ser submetidos a um regime de ditadura nas escolas, previsto para iniciar no ano de 2021, em 177 cidades.
Uma mostra dessa ditadura pode ser percebida na última semana, com a denúncia de um espancamento de aluno por um PM, ocorrido em uma das escolas militarizadas na cidade de Londrina. Segundo o áudio, recebido pela redação deste Diário Causa Operária, um desencontro normal da vida amorosa de adolescentes levou um PM a espancar um jovem. A família só soube o que houve ao ver as marcas da tortura e reagiu tirando o rapaz da escola.
Casos isolados
Situações de brutalidade policial contra a classe trabalhadora tendem a ser relativizadas, sob o argumento cretino de que seriam casos isolados. Contudo, em Brasília, onde o modelo começou, a recorrência dos abusos e das torturas feitas pelos PMs levou os estudantes a criarem uma página na internet, onde as agressões e os casos de violência sofrida pelos alunos é denunciada.
O que se vê pela abundância de relatos dos abusos cometidos pelos PMs contra os estudantes, é a reprodução do método tradicional de ação da PM em todo o Brasil, constituído por uma infinidade de “casos isolados”, os quais se repetem de Norte a Sul do País sempre com o mesmo padrão: subserviente ao lidar com os setores mais ricos da sociedade e uma brutalidade inaudita, fatal em muitos casos, com a classe trabalhadora.
Colocar uma máquina de matar pobres em escala industrial como a PM nas escolas públicas, onde estudam os filhos da classe trabalhadora, pobre via de regra, passa por um certo escárnio mas principalmente por um cálculo político, exatamente no sentido de controlar os trabalhadores e a população pobre em geral de maneira mais direta. E claro, os jovens.
Vanguarda jovem e estudantil na mira do fascismo
Setor de destaque nas principais mobilizações populares, fato facilmente comprovado ao longo da história e também no período pós-golpe, a esquerda e os estudantes não devem ter dúvidas de que a intensa mobilização da extrema-direita no sentido de militarizar as escolas tem como único objetivo o controle político dos envolvidos no campo da educação.
O caso do Paraná é emblemático por se tratar exatamente do estado em que o movimento de ocupação de escolas, iniciado em 2016, mais se radicalizou. Na época, mais de 1.100 escolas foram ocupadas pelos estudantes secundaristas em 22 estados brasileiros (além do Distrito Federal), das quais, cerca de 850 instituições de ensino no Paraná.
Iniciada como uma resposta dos estudantes contra a reforma do ensino médio feita pelo recém-empossado Michel Temer, as ocupações de escolas logo atingiram todo o País e tornaram-se um dos grandes eventos políticos de 2016, demonstrando a vitalidade do movimento estudantil. Sem desenvolver uma luta mais consequente, o movimento refluiu, deixando contudo lições para a burguesia.
Estudantes devem ignorar as manobras e mobilizar-se contra a ditadura
Com a perspectiva de radicalização política iminente por parte da direita, resultado da dificuldade encontrada pela burguesia em controlar o regime a partir de suas bases tradicionais na direita centrista, o cálculo dos capitalistas é para não ser pego desprevenido novamente, e já ter a PM nas escolas, pronta para agir, especialmente nas localidades onde as manifestações de 2016 demonstraram mais vigor.
O crescimento do modelo fascista de organização das escolas no Paraná demonstra, na prática, que o bolsonarismo continua na ofensiva contra a educação pública. É uma tentativa de impor não apenas a ideologia da extrema-direita contra os estudantes, mas principalmente, de desmantelar por completo a própria organização de luta e a mobilização estudantil, obviamente, sem esquecer os professores e funcionários das escolas.
Mas sem dúvidas, o alvo principal é a juventude mais pobre, filhos da classe trabalhadora, que ficarão completamente reféns do autoritarismo dos militares e impedidos de se organizar politicamente, como no passado, remoto e recente.
É de fundamental importância travar uma luta enérgica contra a medida imposta pelo governo estadual. Mobilizar os estudantes, familiares, professores e funcionários contra a imposição da ditadura nas escolas, com uma mobilização que ultrapasse o burocratismo das direções atuais, esclarecendo os demais alunos e membros da comunidade escolar sobre as manobras do bolsonarismo, como a consulta popular, caracterizando-a como mera peça de propaganda para a política de ataques da extrema-direita.
É necessário organizar atos em todas as regiões do estado contra a proposta, retomar a ocupação das escolas e impedir por meio da mobilização dos estudantes e membros da comunidade, a transformação das escolas em verdadeiros campos de concentração sob o controle dos militares fascistas.
E para garantir que não haja novos refluxos, o movimento deve incluir também o Fora Ratinho e Fora Bolsonaro, politizando-se e impondo, pela força dos estudantes, um novo regime político, dedicado aos interesses concretos da comunidade escolar, incluindo a auto-gestão das escolas.