Entre os dias 3 a 6 de novembro, foram realizadas as eleições para direção do ANDES-SN (Sindicato Nacional dos Docentes). Este ano o escrutínio foi feito através de um processo “telepresencial”, organizado pelas seções sindicais em todo o país.
Um primeiro dado é que devido a propagação do coronavírus, a suspensão das aulas presenciais no ensino superior e pela marcação das eleições nas vésperas das eleições municipais, a campanha eleitoral “virtual” não provocou um interesse efetivo entre os docentes, expresso no baixo comparecimento nas urnas, votaram tão somente 12.856 docentes, cerca de 16% dos filiados, uma diminuição do número de participantes em relação ao processo eleitoral anterior.
O formato burocrático e confuso escolhido pela comissão eleitoral (dominada pelos apoiadores da chapa da atual diretoria) completou a dificuldade das eleições, o que representou uma vantagem para a chapa da situação, que soube explorar a seu favor a abstenção.
Nestas eleições mornas e sem grande entusiasmo, o resultado eleitoral com a vitória da chapa 1 com cerca de 7.086 dos votos válidos (55%) contra 5.658 dados à chapa 2 (cerca de 45%) não foi evidentemente uma surpresa. De qualquer forma, a vitória da chapa 1 indica que a burocracia sindical que dirige o Andes, apesar da crise da sua política e das divisões internas, continua controlando o aparelho sindical, e com isso bloqueando as lutas da categoria.
Na disputa para direção do Andes, foram registradas duas chapas. A Chapa 1 – Unidade para Lutar: Em defesa da educação pública e das liberdades democráticas, a chapa da atual direção, composta pela esquerda pequeno burguesa, PSOL e PCB.
A segunda chapa concorrente foi a Chapa 2, Renova Andes, a chapa da oposição sindical dos docentes organizados no Fórum Renova Andes, constituído pelos setores que integram os comitês de luta contra o golpe e participaram da mobilização contra a prisão de Lula. Foi a chapa apoiada pelos Educadores em Luta.
É importante ressaltar o fato em si da inscrição da chapa de oposição já constituir uma importante vitória política, uma vez que os estatutos do Andes são excessivamente burocráticos, e notadamente antidemocráticos. Na eleição anterior, em 2018, a homologação da chapa de oposição representou uma conquista relevante daqueles que lutam por uma reorientação política do sindicato. Em sua primeira campanha, o resultado eleitoral da chapa do Renova Andes com mais de 40 % dos votos válidos demonstrou o crescimento do Renova Andes na base da categoria, presente em todas as regiões do país.
Nesses dois anos, mais seções sindicais foram conquistadas por docentes alinhados com o Renova Andes, expressando o desenvolvimento de uma tendência à luta política em defesa da universidade e contra o golpe do estado, superando as amarras impostas pela orientação sectária da diretoria do Andes.
De uma forma geral, o balanço do funcionamento do sindicato nacional dos docentes do ensino superior no último período é muito negativo, o que explica o baixo comparecimento dos docentes no processo eleitoral. A direção do sindicato adotou uma política que provoca o afastamento das bases da categoria e o isolamento político diante da classe trabalhadora. Há mais de uma década predominou o sectarismo, a autoproclamação e ultimatismo como política corrente no Andes.
Além disso, é importante ressaltar que a captura do Andes pela esquerda pequeno burguesa representou o esvaziamento do Andes, na medida em que estimulou o divisionismo e o enfraquecimento da entidade. O resultado da participação do Andes na política sectária e aventureira do PSTU de abandono da maior central sindical da América Latina foi sentido na quebra da unidade no interior do movimento docente, resultando em rupturas na própria base do Andes (criação do Proifes e sindicatos independentes). Neste sentido, ao contrário do que foi dito pela chapa 1, o principal padrinho do Proifes não foram os integrantes da chapa 2, mas a política desastrosa divisionista da diretoria do Andes.
É importante assinalar que a diretoria do ANDES-SN durante toda a crise política recusou terminantemente a fazer até mesmo um debate sobre a situação política, afirmando que “não existia golpe” e que “são todos iguais”, que as ações reacionárias da direita não deviam ser combatidas, pois é uma disputa interburguesa entre “governistas” e a oposição de direita, e que o Andes deveria ser “autônomo”, ou seja, deveria adotar uma política de avestruz, o que evidentemente favoreceu as forças políticas que deram o golpe de Estado em 2016.
Durante o processo eleitoral em 2018 e mais ainda agora em 2020, os setores remanescentes das antigas diretorias que compuseram a chapa 1, por força da realidade, reconheceram até mesmo a existência do golpe, esboçando até uma tímida crítica às posições adotadas pelas diretorias passadas, mas, no fundamental, como ficou claro ao longo da campanha eleitoral, não houve uma alteração substancial na política da esquerda pequeno burguesa.
A atual gestão do Andes foi marcada por uma completa paralisia política. Na realidade, a completa inoperância do Andes, não somente agora com o “isolamento social” em decorrência das medidas de quarentena, mas nos últimos anos, transformou o sindicato nacional em um arremedo de representação sindical.
A votação do Renova Andes indica uma solidificação de um eleitorado oposicionista, com uma vitória expressiva em seções sindicais importantes como a UNB, UNEB, ADUFRJ,APUR entre outras.
Apesar das dificuldades, a campanha da chapa 2 conseguiu agregar muitos apoios entre os docentes e demonstra o descontentamento com a política da atual direção. Um dos limites do Renova Andes que transpareceu na campanha eleitoral para a direção do sindicato foi o fato que a chapa da oposição atuou de forma reativa aos ataques desesperados da chapa da diretoria, além disso, na forma, as duas campanhas eram espelhadas, marcadas por tangenciar os problemas relevantes da luta política e da pauta da categoria.
A tarefa de construção de uma nova direção está colocada de uma forma ainda mais significativa, por isso é preciso impulsionar um movimento de oposição pela base da categoria, colocando em relevo a mobilização pelo Fora Bolsonaro e pelas reivindicações dos docentes, fortalecendo o Fórum Renova Andes como uma alternativa política efetiva, e não simplesmente uma chapa eleitoral.