No ano de 2020, um dos mais tradicionais blocos da cultura negra, o Ilê Aiyê, ficou fora de um edital de financiamento estatal, o Carnaval Ouro Negro. Esse edital é uma conquista da população negra e foi iniciado em 2008 para subsidiar e apoiar blocos carnavalescos tradicionais que estejam ligados a população negra.
É uma medida para impedir a descaracterização e da burguesia tomar conta do carnaval. É fato conhecido de que o carnaval de salvador se transformou em um evento em que os negros são colocados de lado. As imagens do carnaval incentivado pelos governos estadual e municipal e estimulados pela burguesia com os camarotes e as cordas que separam ‘brancos’ para dentro e a população ‘negra’ para fora das cordas. Esse recurso serve para manter os grupos e viabilizar preços acessíveis para fantasias e os blocos nas ruas de Salvador.
O tradicional Afoxé Filhos de Gandhi, também sofreu e quase ficou fora do edital com o mesmo problema de documentação, mas teve o recurso aceito e vai receber os recursos.
O Ilê Aiyê foi retirado do edital e seu recurso negado pois não tinha um documento que estava vencido, uma certidão de regularidade com a Secretaria da Fazenda do município. A pergunta é que um grupo tradicional e ligado a população negra de Salvador, com mais de 46 anos de existência e participação no carnaval para registrarem sua ‘existência’. É claro que é uma tentativa de controle desses grupos pela prefeitura e a direita.
Para artistas e grupos musicais que estão fazendo sucesso no Brasil e cobram altos valores de cachê quase não existe esse tipo de burocracia, edital, seleção ou qualquer outro tipo de controle.
Tem que ficar claro que o ocorrido pode parecer uma confusão e desorganização, mas é uma maneira de destruir de maneira sorrateira o carnaval popular e colocar o pouco que resta nas mãos de grandes empresários do setor de entretenimento e retirar do controle de organizações populares. São tantos documentos, assinaturas, certidões e exigências que inviabiliza os grupos mais populares e da população participar.
São blocos conhecidos e enquadrados como entidade cultural renomada e reconhecida, que a direita tenta controlar com burocracias e esmagá-las com esse controle. Um bom exemplo são os blocos de carnaval de São Paulo que não estão conseguindo cumprir as exigências e restrições da prefeitura controlada pela direita, o tucano Bruno Covas. Essa direita que é contra as festas populares conseguiu que 1/3 dos blocos cancelassem suas atividades.
Tanto é assim que nos últimos anos ACM Neto, representante da direita baiana, vem priorizando grande parte dos recursos do carnaval para o circuito da Barra/Ondina, onde se concentra a elite da Bahia, em contra mão do tradicional circuito do Campo Grande, que passa por locais históricos da região central e tem grande participação da população negra e pobre de Salvador.
A direita quer transformar o carnaval de Salvador em um evento da elite sem participação dos trabalhadores. De um lado a classe média com recursos nos camarotes e nos grandes blocos de trios fechados ao público, e do outro, a população pobre disputando qualquer espaço que não está delimitado, atrás dos trios elétricos, na base dos empurrões, e da violência policial.
Por isso, a população tem que tomar o controle do carnaval. A prefeitura e o governo estadual têm que fornecer os recursos e o material para viabilizar o carnaval, e representantes dos blocos tradicionais e a população tem que decidir o que fazer com os recursos, o percurso e outras decisões relativas a festa.