O artista Daniel Paiva foi censurado da internet por criar o personagem Boldinho, paródia do Cebolinha, da Turma da Mônica, após receber uma notificação extrajudicial da Mauricio de Sousa Produções (MSP), uma agência de monopólio dos quadrinhos onde foi criado o personagem original. Aparentemente sem motivos óbvios para obrigar a apagar a obra, a produtora solicitou a Paiva e ao site maryjuana.com.br que parassem de publicar tirinhas do personagem criado pelo cartunista em 2004 e veiculado em revistas independentes de quadrinhos como a “Tarja Preta”.
Daniel marca presença no Artists’ Valley no último dia da CCXP Worlds, considerado o maior evento de cultura pop/geek no Brasil, a Comic Con Experience (CCXP) foi criada em 2014 por membros das empresas Piziitoys, Chiaroscuro Studios e Omelete, cobrindo as principais áreas dessa indústria como: videogames, histórias em quadrinhos, filmes e séries para TV.
O cartunista explica: “Recentemente, recebi uma notificação extrajudicial. Apesar de não concordar com o que foi alegado, estou tirando as imagens do ar porque não tenho recursos financeiros para assumir essa briga na Justiça. Então eu preferi, com muita tristeza, tirar as imagens do personagem Boldinho do ar.”
“É um sentimento que deve ser parecido com ser censurado. Me sinto não podendo usar um meio de expressão por força maior. Não fui censurado porque eu mesmo fui lá e tirei os meus desenhos do ar. O Boldinho é uma paródia, e ela é prevista na lei. Alegam que [o personagem] não é uma paródia por trazer descrédito à obra original, o que é bastante subjetivo. Sempre considerei o Boldinho uma homenagem.” , explica Paiva
Já a Mauricio de Sousa Produções afirma, de forma moralista e hipócrita, como desculpa para manter seu monopólio, que suas exigências foram prontamente acatadas pelos notificados. “Os personagens da MSP jamais estarão associados a qualquer ilícito que seja, até porque conversam com públicos de todas as idades. O personagem Boldinho gerou descrédito à obra original [Cebolinha], fato não permitido pela legislação. Procurou-se pela notificação resolver esta questão de forma amigável, o que de fato ocorreu. A MSP sente-se satisfeita com as providências até aqui adotadas.”
Porém, Daniel justifica que as tiras do Boldinho eram publicadas em espaços restritos para maiores de idade. Após o fato ocorrido, fãs do personagem criado por Paiva criaram uma página no Instagram batizada #Freeboldinho, https://www.instagram.com/freeboldinho, que reúne desenhos de Boldinho feitos por diferentes cartunistas. Em um dos post o personagem que está preso, injustamente claro, diz em voz alta para si mesmo: “Quem dilia que um helói de infância selia um velinho tão amalgulado”
“Essa luta não é só para a gente poder fumar maconha, é para acabar com essa política toda de genocídio da juventude negra e das periferias, das favelas, das comunidades do Brasil. É uma discussão muito séria. Por mais que um quadrinho do Boldinho possa ser bobo, por trás tem toda essa discussão. Produzimos não só Quadrinhos Canábicos mas também, filmes, música, literatura e todo tipo de arte e cultura com a temática da maconha, seja para reivindicar as mudanças sociais que acreditamos seja porque simplesmente a erva nos inspira.” Desabafa Daniel em rede social.
Maurício de Sousa, aproveita do poder de monopólio de sua grande empresa MSP, usando como pretexto falsas moralidades e hipocrisias, para atacar e censurar um simples cartunista independente, cuja as mensagens dos quadrinhos são direcionadas a outro público. Além do mais, as paródias são previstas por lei e não depreciam o personagem original. É preciso dar apoio ao cartunista e seu personagem, evitando assim o avanço fascista contra o setor artístico e lutar pela plena liberdade de expressão.