O projeto de destruição do Botafogo segue a pleno vapor. Pressionado por não viabilizar ainda em 2020 a transformação do tradicional clube de futebol carioca em mais um clube-empresa, o empresário Laércio Paiva saiu da liderança do projeto. Em seu lugar, o economista Gustavo Magalhães entra para acelerar a entrega do clube aos especuladores financeiros.
Celebrado por seu longo envolvimento com o mercado financeiro, Laércio foi apoiado pelo golpista Felipe Neto. O youtuber chegou a se referir ao empresário como “um anjo” que surgiu no Botafogo e apontou os irmãos João e Walter Moreira Salles como um empecilho à concretização do plano de Laércio. Nada além de uma disputa econômica, pois os Moreira Salles também querem um pedaço do “bolo”. Gustavo Magalhães entra para tentar concluir o projeto que já estava em andamento, inclusive aproveitando grande parte do trabalho que seu antecessor deixou.
O problema mais imediato para a maior parte da torcida é a grande chance do clube sofrer o rebaixamento para a segunda divisão, o que já ocorreu em 2002 e 2014. Os propagandistas de venda do clube se aproveitam da situação para fazer chantagem e impor o projeto Botafogo S/A. Segundo eles, além de quitar as dívidas os benevolentes investidores teriam o mesmo interesse dos torcedores, que o clube conquiste títulos. Com o sucesso do clube, teriam maior retorno financeiro do seu investimento.
Parece até razoável, no entanto essa formulação esconde o principal, que é a natureza do vínculo de cada uma das partes com o clube. Enquanto os torcedores estão conectados social e afetivamente ao time do coração, capitalistas têm objetivos mais calculados. As torcidas não abandonam um clube depois das piores derrotas, capitalistas abandonam investimentos que deixam de trazer retorno.
O caso do Botafogo deve servir como um alerta aos torcedores dos grandes clubes brasileiros. Os clubes grandes despertam a ganancia dos capitalistas parasitários, que não querem saber de construir nada, apenas lucrar. Com a desculpa de quitar as dívidas dos clubes e supostamente “modernizar” as administrações, esses investidores chegam para tomar de assalto patrimônios culturais do Brasil.
Verdadeiramente interessados no sucesso dos clubes, apenas os torcedores, justamente os que podem sair mais lesados dessas aventuras capitalistas. Seus setores mais ativos, que são as torcidas organizadas, não podem assistir passivamente a esse processo e destruição dos clubes. Nunca será demais relembrar o recente caso do Bragantino, Campeão Paulista em 1990 e hoje apenas mais um clube da marca Red Bull, com as cores e símbolos da multinacional desfigurando a história quase centenária do clube.